O globo, n. 31671, 23/04/2020. Especial Coronavírus, p. 4

 

Diretriz Federal

André de Souza

Leandro Prazeres

Gustavo Maia

Renata Mariz

23/04/2020

 

 

Teich prevê criterios locais para reducao da quarentena

O ministro da Saúde, Nelson Teich, prometeu apresentar em uma semana um plano para o início do relaxamento das medidas de distanciamento social no país. O ministro citou que o plano deve levar em consideração os aspectos de cada região do país e haverá possibilidade de recuo após reaberturas, de acordo com a evolução dos dados em cada local.

Teich destacou que, apesar do crescimento de casos e de mortes nas últimas semanas, a doença tem registrado no Brasil números inferiores aos de outros países, citando França, Espanha e Alemanha, além dos Estados Unidos. A comparação, no entanto, foi feita com nações que já estão em fase posterior na curva de contaminação pelo vírus.

— A gente hoje já tem uma matriz pronta (para instruir estados a um começo de reabertura da economia). Daqui uma semana a gente entrega uma diretriz completa, depois dos ajustes — afirmou o ministro, na sua primeira entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

—O Brasil é gigante e heterogêneo, não tem como diretriz não ser customizada para as diferentes partes do país. Você vai computar quais os números de casos novos, com os anteriores, estrutura de leitos, recursos humanos...

Ao lado do ministro estava o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Teich, que havia prometido trabalhar em conjunto com os governadores, afirmou que adotar o isolamento no início da pandemia é algo “natural e lógico”, mas que é preciso criar um programa de saída:

— É impossível um país sobreviver um ano, um ano e meio parado. O afastamento não pode não estar acompanhado de um programa de saída. É isso que a gente vai trabalhar.

TESTES

Questionado sobre os testes aplicados à população como forma de orientar o planejamento, Teich ressaltou que os atos deverão ser reavaliados com possibilidade de recuo, de acordo com as consequências, por causa do desconhecimento em relação à Covid-19:

— Quando você conhece pouco alguma coisa (referindo-se à doença), não consegue prever o que acontecerá. Então tem que ser rápido o bastante para fazer um diagnóstico e tomar uma atitude. Uma das coisas que teremos é: se acontecer isso aqui, recua. Testar, diagnosticar precocemente a consequência do seu ato, e rever oque tem afazer.

Teich tem falado da importância de ampliara testagem e ressaltou mais de uma vez que não haverá exames “em massa”:

—Não tem teste em massa. Se imaginara Coreia do Sul, que é referência, fizeram 11 mil testes por milhão de pessoas, isso não é teste em massa.Oque você tem que faze ré mapeara população de tal forma que (o resultado dos testes) reflita a população.

Teich avaliou que, apesar da “situação difícil e complexa”, o Brasil “é um dos países que melhor performam em relação à Covid”, citando que a taxa é de 8,17 mortos por milhão de habitantes.

— Se você analisar mortos por milhão de pessoas, o número do Brasil é de 8,17. A Alemanha tem 15, a Itália tem 135, a Espanha tem 255 e os Estados Unidos ,129. O nosso número é um dos melhores — comparou Teich, errando os números brasileiro e alemão. Segundo o Ministério da Saúde, o país tem 13 morte sacada milhã ode habitantes, e aO MS informa que este índice está em 58 na Alemanha.

Os países citados, porém, estão em outra fase na curva de contaminação, tendo chegado ao que é considerado o pico da doença. O ministro também mencionou que há 24.300 curados da doença no Brasil, entre os mais de 40 mil casos confirmados:

—Nossos números são melhores. Qual o problema da Covid? Ela assusta porque acomete rápido o sistema, que não é feito para ter ociosidade. Saúde é muito caro, então os hospitais trabalham quase que no limite. Quando algo sobrecarrega o sistema, é quase impossível se adaptar na velocidade necessária.

O ministro lembrou que os hospitais também precisam atendera outras doenças. Ele calculou que se o país tivesse 4 milhões de infectados, em vez dos 45 mil atuais — numa hipotética subnotificação de quase cem vezes o número de casos —, ainda assim seriam apenas 2% da população.

Também na coletiva no Planalto, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse que a primeira carga de 17 milhões de máscaras importadas da China deve chegar na próxima segunda-feira. O prazo para entrega vem sendo adiado. Freitas explicou que os aviões brasileiros já estão na China, mas ainda aguardam a liberação do material que o Ministério da Saúde comprou.

—Eles (os chineses) reforçaram nesses últimos dias as inspeções desses produtos —explicou Tarcísio.

CRÍTICA À IMPRENSA

Já o ministro da Secretaria Geral de Governo, Luiz Eduardo Ramos, criticou a imprensa por publicação de “fatos negativos” sobre a Covid-19 sob o argumento que as pessoas estão “muito suscetíveis” a essas notícias. Ele pediu que os telejornais divulguem também “notícias boas”, como o número de pessoas curadas ou a atuação dos profissionais de saúde:

— Nós do governo respeitamos muito a liberdade de imprensa. Mas temos observado uma cobertura maciça dos fatos negativos. Temos pessoas que são muito suscetíveis a essas notícias. Com todo o respeito, no jornal da manhã é caixão, é corpo; na hora do almoço, é caixão, é corpo. À noite é caixão, é corpo e número de mortos.