O globo, n. 31671, 23/04/2020. Especial Coronavírus, p. 6

 

Flávio se oferece para ‘demandas’ no Senado

Amanda Almeida

23/04/2020

 

 

Em grupo de WhatsApp, filho do presidente se coloca à disposição para facilitar pedidos de colegas

 Dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro dizer que não quer “negociar nada”, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) se ofereceu, na última terça-feira, para facilitar o avanço de “qualquer demanda” dos colegas de Casa com o Executivo. A oferta do filho do presidente foi feita em meio a ataques de parlamentares ao presidente.

O texto de Flávio foi postado em um grupo criado recentemente pelo senador Irajá Abreu (PSD-TO) com todos os colegas para “ajudar em nossa comunicação, principalmente neste momento de pandemia e também de adaptação na votação remota”. Segundo senadores, Flávio reagiu às primeiras mensagens feitas no grupo, a maioria em ataque a Bolsonaro, especialmente pela participação dele em protesto no último domingo.

Os manifestantes defenderam uma intervenção militar —faixas pediam o fechamento do Congresso e do Judiciário. No evento, Bolsonaro disse que não está aberto à negociações: “Queremos é ação pelo Brasil”.

Em reação às críticas, Flávio disse que “gostaria de saber, se entre os objetivos deste grupo, está atacar o presidente Bolsonaro”. O filho do presidente disse que estava fazendo a “ponderação” logo no início das conversas no grupo, pois ele deixaria de “ser útil” se os senadores partissem para a disputa política.

“Fico à disposição para intermediar qualquer demanda junto do Executivo federal, caso qualquer senador esteja tendo alguma dificuldade de fazê-lo”, finalizou Flávio.

O líder do PSL, Major Olímpio (SP), reagiu. Bolsonaro e o filho se elegeram pelo partido de Olímpio. Depois de se desentender com o presidente da sigla, Luciano Bivar (PE), se desfiliaram no ano passado.

No grupo, Olímpio disseque não precisa de interlocutor que “reputa ilegal” para lidar com o Executivo. “Há muito tempo, o meu lado é o da lei ”, disse, acrescentando que o PSL não faz essa negociação.

O clima no Senado já era de irritação com Bolsonaro desde domingo. Na segunda-feira, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cancelou sessão numa tentativa de diminuir a temperatura da crise. Antes da reunião ser desmarcada, senadores como Daniela Ribeiro (PP-PB), Kátia Abreu (PP-TO) e Rose de Freitas (Podemos-ES) foram veementes nas críticas. O líder do PT, Rogério Carvalho (SE), chegou a discutir com Arolde Oliveira (PSD-RJ), um dos poucos a defender Bolso na roem meio acríticas de colegas de vários partidos.

Na crise, o presidente faz um esforço para se aproximar de lideranças partidárias. Hoje, ele deve se reunir com ACM Neto, presidente do DEM. Ontem, recebeu o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), e o líder da legenda no Senado, Eduardo Braga (AM). Bolsonaro já se encontrou com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), do PRB, Marcos Pereira (SP), além do líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), e do senador Jorginho Mello (PL-SC).

Bolsonaro tenta também criar uma nova forma de comunicação na Câmara. O presidente atacou o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM RJ). Em meio ao desgaste com Maia, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) tem se reunido com integrantes do centrão, como MDB, DEM, PL, PP e PSD.