Título: Apelo por mais crédito
Autor: Hessel, Rosana; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2012, Economia, p. 12

Preocupado com a necessidade de elevar os investimentos, o ministro da Fazenda pede a bancos privados que aumentem o financiamento ao setor privado em 2013. Banco Central libera R$ 15 bilhões às instituições financeiras

O governo fez ontem mais uma tentativa de reconstruir os canais de comunicação com o setor privado, no intuito de estimular os investimentos no próximo ano. Para avaliar o comportamento da economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma reunião de última hora com representantes dos maiores bancos públicos e privados do país e aproveitou o encontro para pedir aos executivos das instituições privadas que elevem a oferta de crédito em 2013.

Na apresentação inicial que fez aos convidados, o ministro afirmou que o cenário econômico de 2013 será melhor que o de 2012, com queda na inadimplência e menor impacto da crise financeira europeia. Fontes próximas a Mantega disseram que ele saiu otimista da reunião e com a esperança de que o seu pedido será atendido.

O investimento é uma das maiores preocupações da presidente Dilma Rousseff. Logo após a audiência dos banqueiros na sede da Fazenda, o Banco Central editou uma circular que libera para as instituições financeiras que cumprirem uma série de exigências até 20% dos depósitos compulsórios que elas são obrigadas a manter sem remuneração nos cofres da autoridade monetária. A medida pode elevar em até R$ 15 bilhões o volume de capital que eles terão disponível para empréstimos e financiamentos.

Somente terão redução no compulsório os bancos que financiarem ônibus, caminhões e bens de capital — itens determinantes para a formação da taxa de investimento do país. Hoje, essa taxa é de 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), seria necessária uma taxa de 25% para que a economia brasileira avançasse 5% ao ano.

A decisão do BC atende ainda uma reivindicação do setor financeiro, que se queixa da redução das margens de lucro depois que o governo pressionou o segmento a reduzir as taxas de juros. Segundo os banqueiros, os depósitos compulsórios aumentam os custos de operação das instituições e alargam os spreads (diferença entre o que o banco cobra para emprestar e o que ele paga ao captar recursos).

Desconfiança

O objetivo do governo é aumentar a participação das instituições privadas no crédito ao setor produtivo e no financiamento dos programas de infraestrutura, hoje liderados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo relatório divulgado ontem, a instituição estatal desembolsou R$ 142,7 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses até novembro, valor 7% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

Considerando todo o sistema financeiro, os recursos destinados às famílias crescem a um ritmo maior que o voltado às empresas. Em 2012, até novembro, os financiamentos ao consumidor aumentaram 15,7%, enquanto o capital destinado ao setor produtivo avançou 11,6%. Esse descompasso é reflexo da falta de confiança dos empresários no futuro da economia. Apesar de estar com a menor taxa de juros da história, o país deverá crescer apenas 1% este ano. Para piorar, o cenário traçado pela maioria dos economistas indica que o PIB, em 2013, não deverá crescer os 4% desejados por Mantega e pela presidente. A previsão gira em torno de 3,3%.

Como a convocação de Mantega foi feita na véspera, estavam presentes apenas três presidentes de bancos: o do Itaú, Roberto Setúbal, o do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e o da Caixa, Jorge Hereda. Também participaram do encontro o vice-presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, e o vice-presidente de Assuntos Corporativos do Santander, Marco Araújo. O banco Safra enviou o diretor financeiro, Silvio de Carvalho; o HSBC, o diretor executivo de Relações Institucionais, Hélio Ribeiro; e o Citibank, o tesoureiro Pedro Lorezini.

Dólar volta a preocupar BC O Banco Central deu continuidade, ontem, aos leilões conjugados de compra e venda de dólares. O objetivo é garantir o funcionamento e a liquidez do mercado de câmbio que, tradicionalmente, apresenta escassez de recursos no fim do ano. O BC quer ainda assegurar que a divisa não suba tanto frente ao real e afete a inflação, o que poderia comprometer a missão da instituição de manter a carestia em 4,5% ao ano, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Com a intervenção da autoridade monetária, o dólar fechou em queda de 0,31%, cotado a R$ 2,049 na venda.