Título: Paz longínqua
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Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2012, Mundo, p. 17
Rússia afirma que, apesar de a saída conciliadora ser distante, é a única que não aumentará o derramamento de sangue na Síria
O mediador da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, pediu ontem uma mudança real no país, mergulhado em uma guerra civil que opõe rebeldes a soldados e milícias pró-regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, desde março do ano passado. Para o diplomata, “é preciso formar um governo com todos os poderes (...) para assumir durante o período de transição, que terminará com eleições” — marcadas para 2014, quando acaba o mandato atual de Al-Assad. “A mudança não pode ser cosmética”, afirmou o enviado, que não falou sobre que papel Assad teria em um eventual gabinete de transição, durante uma entrevista coletiva em Damasco.
Na Síria desde o último domingo, Brahimi encontra resistências em relação aos seus planos de paz tanto por parte de Al-Assad, com quem se reuniu na segunda-feira, quanto pelos rebeldes, que rechaçam qualquer possibilidade de participação do atual presidente em um futuro governo. “Aceitaremos qualquer solução política que não inclua a família Assad e os que danificaram o povo sírio”, declarou ontem Walid Al-Buni, porta-voz da Coalizão Nacional Síria (CNS), grupo que abriga opositores ao regime. A opinião da CNS também é compartilhada pela França, que por meio de uma declaração Ministério das Relações Exteriores do país, reiterou que Bashar Al-Assad “é responsável pelas 45 mil vítimas deste conflito” e, por isso, “não pode fazer parte do processo de transição política” na Síria.
Amanhã, o mediador viajará a Moscou, onde se reunirá com líderes russos na busca de novas soluções para os 21 meses de conflito. Após várias especulações da imprensa internacional, os russos desmentiram ontem a existência de um plano de paz, que teria sido elaborado em conjunto com os Estados Unidos, para manter Al-Assad na presidência até 2014. “Não houve e não há tal plano, e não está sendo negociado”, garantiu o porta-voz da chancelaria russa, Alexander Lukashevich. A ideia, então, é seguir atuando segundo um acordo que prevê a presença de membros do atual governo sírio durante uma transição, firmado em junho do ano passado em Genebra, por vários países, incluindo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido).
Em entrevista à agência de notícias Interfax, em Moscou, o chanceler russo, Sergei Lavrov, admitiu que as chances de resolver a questão síria com a orientação emitida em Genebra pela comunidade internacional diminuem, mas alertou que qualquer outra alternativa, “fora uma solução pacífica, é um caos sangrento. As chances de se chegar a uma decisão com base no documento da reunião sobre a Síria, de 30 de junho, em Genebra, estão diminuindo. Mas elas ainda existem, e temos que lutar por isso”, insistiu Lavrov. Além de Brahimi, os russos esperam a chegada do chefe da diplomacia egípcia, Mohamed Amr, para debater a crise síria.
Pelo menos 49 pessoas, incluindo 11 rebeldes e 16 soldados morreram em confrontos na província de Idleb ontem, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Segundo o grupo, aviões da força aérea síria bombardearam os arredores de uma base militar — sitiada pelos rebeldes há mais de dois meses — no noroeste do país. Além disso, outros incidentes foram registrados em Binneche, também na província de Idleb, em Daraya, perto de Damasco, e em Sbina, outro subúrbio da capital, onde quatro pessoas morreram e dez ficaram feridas — em sua maioria, alunos da região — após a explosão de um carro-bomba.