O globo, n.31711, 02/06/2020. País, p. 07

 

Bolsonaro entrega ao centrão fundo bilionário

Daniel Gullino

Naira Trindade

Natália Portinari

02/06/2020

 

 

Em mais um avanço das negociações feitas para o apoio ao presidente Jair Bolsonaro, o centrão passou a controlar o Fundo Nacional e Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que tem um orçamento de R$ 54 bilhões. Foi oficializada a nomeação de Marcelo Lopes da Ponte, até então chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira, presidente do PP e réu na Lava-Jato.

O grupo agora espera a entrega da presidência do Banco do Nordeste a um indicado do PL do ex-deputado Valdemar Costa Neto, preso no mensalão. O deputado Arthur Lira (PP-AL), também réu na LavaJato e chamado de “líder informal” do governo, organiza a planilha com novos pedidos.

Ciro Nogueira e Arthur Lira são réus no Supremo Tribunal Federal( STF) por organização criminosa no processo apelidado de “quadrilhão do PP”. Os dois teriam participado da divisão de recursos desviados da Petrobras, o que negam.

O comando do FNDE já tinha sido negociado com o centrão no ano passado, quando Rodrigo Sergio Dias, também indicado pelo PP, foi nomeado em agosto. Em dezembro, porém, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, o exonerou. Agora, o grupo retomará o comando com Lopes da Ponte. O órgão é gestor de programas como de compra de livros didáticos e de merenda escolar.

Já o PL emplacou Gerfania do Socorro na chefia do escritório da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em Brasília —foi uma indicação da deputada federal Soraya Santos (PL-RJ), como informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. O partido já tinha garantido um cargo no FNDE. Garighan Amarante Pinto assumiu a Diretoria de Ações Educacionais do fundo. Ele é nome de confiança de Costa Neto, que comanda a sigla, apesar de não ser formalmente o presidente do partido.

Outras nomeações recentes de indicados por partidos do centrão foram de um nome do PP para a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e outro do PSD para a presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Para fechar essa rodada de negociações, o grupo espera a confirmação da entrega do primeiro cargo em um banco público. É aguardada para os próximos dias a nomeação de Alexandre Borges Cabral, expresidente da Casa da Moeda, para o comando do Banco do Nordeste. Ele também foi indicado pelo PL.

Na semana passada, Bolsonaro admitiu negociar cargos com os partidos, mas negou oferta apolíticos do comando de “estatais ou bancos oficiais”.

— Conversei com praticamente todos presidentes e líderes de partidos. Sim, alguns querem cargos, não vou negar. Alguns, não todos. Mas, em nenhum momento, oferecemos ou pediram ministérios, estatais ou bancos oficiais — afirmou o presidente, durante uma transmissão ao vivo.

As indicações fazem parte da nova estratégia do governo de montar uma base sólida no Congresso para aprovar propostas do governo e, principalmente, afastar o risco de um processo de impeachment.

O centrão, porém, quer mais. Lira já está organizando uma planilha com novos pedidos. Agora, os parlamentares estão de olho nas diretorias e secretarias dos ministérios. Na descrição de um parlamentar, as siglas estão fazendo um consórcio para “ocupar tudo, menos os ministérios”.

Um dos pedido sé a Secretaria de Políticas Agrícolas, do Ministério da Agricultura. César Halum, filiado ao Republicanos, foi indicado ao posto pelo líder do partido na Câmara, Jhonatan de Jesus (RR). Já o líder do P L, Wellington Roberto( PB ), quer emplacar um filho no Ministério do Turismo —a preferência é pela Embratur. A mulher de Wellington Roberto já ocupa um cargo na Funasa, em Brasília.