O globo, n.31712, 03/06/2020. País, p. 07

 

Para chefe de fundação, movimento negro é 'escória'

03/06/2020

 

 

Enquanto o movimento negro promove atos globais contra o racismo, impulsionados após a morte de George Floyd pela polícia de Minneapolis, nos Estados Unidos, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, tem desferido ataques às demandas e aos lemas dessa militância.

No Twitter, Camargo afirmou anteontem que “a influência do movimento negro sobre os negros é perniciosa e deletéria ”, manifestou—mais um avez—o desejo de revogara realização do Dia da Consciência Negra no país e ameaçou bloquear das redes sociais aqueles que aderissem ao slogan dos protestos iniciados nos EUA (“Black lives matter”, o equivalente a “Vidas negras importam”).

Áudio de uma conversa entre Camargo e dois assessores, registrado no dia 30 de abril e obtido pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, reforça o antagonismo dele à causa. Ao tratar da necessidade de ressarcira fundação pelo desaparecimento de um celular corporativo, Camargo disse que estava afastado judicialmente do cargo quando o aparelho sumiu. Sugeriu, então, que poderia ter sido alvo de um furto proposital e se referiu ao movimento negro como “escória maldita”.

—Alguém que quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadindo coma ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita — afirmou Camargo, que também foi gravado criticando Zumbi dos Palmares e chamando de “macumbeiros” adeptos de religiões afrobrasileiras.

Em nota, Camargo lamentou“agravação ilegal de uma reunião interna e privada” e defendeu ter implantado na fundação um “novo modelo de comando (...) voltado para a população e não apenas para determinados grupos”.