O globo, n.31712, 03/06/2020. País, p. 07

 

Aras retoma delação que atinge amigo de Moro

Aguirre Talento

Bela Megale

03/06/2020

 

 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, retomou a negociação de um acordo de delação premiada com o advogado Rodrigo Tacla Duran, que mira um amigo do ex-ministro da Justiça Sergio Moro e pode ser usada para atacá-lo. Tacla Duran está foragido e teve sua proposta de delação rejeitada em 2016 pela Lava-Jato. Os fatos relatados por ele em relação ao amigo de Moro, o advogado Carlos Zucolotto, já foram investigados pela própria PGR e arquiva dosem 2018, soba conclusão de que não ficou comprovada a prática de crimes. Tacla Duran acusou ter pago US$ 5 milhões a Zucolotto em troca de obter condições favoráveis na delação que negociava am 2016 com a Lava-Jato.

O advogado era operador financeiro da Odebrecht em contas no exterior e teve seu acordo recusado por suspeita de omissão de atos ilícitos e ocultação de recursos.

Aras deixoud eforada negociação af orça-tarefada Lava Jato de Curitiba, responsável por investigar os crimes de Tacl aD urane que conhece todo o histórico envolvendo sua tentativa frustrada de acordo.

No último mês, Moro se tornou adversário do presidente Jair Bolsonaro, após ter pedido demissão do governo e acusado o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Essa nova tentativa de delação é vista por fontes do Ministério Público Federal como uma possível retaliação de A rasa ex-ministro. Um integrantedo gabinete do procurador-geral, porém, afirma que as tratativas começaram por iniciativa da defesa de Tacla Duran há aproximadamente três meses, portanto antes do rompimento entre Moro e Bolsonaro.

CONFIDENCIALIDADE

As conversas avançaram agora e, no início de maio, foi assinado um termo de confidencialidade para formalizara fase preliminar das tratativas de acordo. Fontes próximas ao advogado afirmam que ele decidiu procurar Aras para uma nova tentativa de acordo por acreditar que o novo PGR não está alinhado com os procuradores da Lava-Jato e, por isso, estaria disposto a ouvi-lo.

Na negociação, Tacla Duran cita denúncias que já fez anteriormente à imprensa, como o suposto pagamento de US$ 5 milhões a Zucolotto, que seriam compensados com vantagens como a diminuição do valor de sua multa, acordada inicialmente em R$ 55 milhões na sua delação. Zucolotto é padrinho de casamento de Moro e amigo próximo dele. Ainda não está definido se o assunto entrará em seu acordo coma equipe de Aras.

Esse mesmo relato foi objeto de uma investigação na PGR aberta em 2018. O caso foi arquivado pelo então vice-procurador-geral da República Luciano Mariz Maia porque não se provou a participação de Zucolloto nas negociações nem o suposto acordo para reduzir o valor da multa.

Os relatos de Tacla Duran sempre foram vistos com cautela pelos investigadores. Foragido no exterior ao menos desde novembro de 2016, quando foi alvo deu mm andado de prisão determinado por Moro, ele tentou negociar uma delação mas, segundo fontes que acompanharam as tratativas, resistia a admitir que atuou como operador financeiro de contas da Odebrecht no exterior. Ele não foi preso e está na Espanha, país que negou sua extradição. Tacla Duran é réu em quatro ações penais movidas pela Lava-Jato, acusado de operar esquemas de lavagem de dinheiro para diversas empreiteiras e diferentes partidos políticos. Procurado, afirmou que não iria se manifestar. Seu advogado, Sebastian Suárez, não comentou os fatos da reportagem, mas afirmou em nota que o cliente “tem status de testemunha protegida” e que isso lhe garante “medidas de proteção e segurança, entre elas sigilo amplo e irrestrito”. Questionada sobre eventual uso político da delação, a PGR afirmou que não se manifesta sobre “supostos acordos de colaboração em andamento”.

Zuco lottodis se nunca terf alado com Tacl aD urane que apenas foi contratado pela irmã dele para extração de cópias em processos de execução fiscal. Afirmou que nunca teve conversas prometendo vantagens em delações da Lava-Jato.