O Estado de São Paulo, n.46230, 14/05/2020. Economia, p.B3

 

Governo prevê um tombo de 4,7% no PIB

Lorenna Rodrigues

Thaís Barcellos

14/05/2020

 

 

Previsão anterior, divulgada em março, era de que o País teria um crescimento de 0,02% neste ano

O governo federal revisou a estimativa oficial para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 e passou a prever um tombo de 4,7%. O número foi divulgado pelo Ministério da Economia ontem por meio do relatório de receitas e despesas do Orçamento de 2020.

A previsão anterior, divulgada em março, era de que a economia teria crescimento de 0,02% neste ano. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país e serve para medir a evolução da economia.

Se confirmada a projeção oficial, será a maior recessão que o Brasil enfrentará em 120 anos. Segundo estatísticas históricas do IBGE, não há registro de uma queda tão grande da atividade desde o início da série, em 1901. Até hoje, o maior tombo na economia ocorreu em 1990, quando houve retração de 4,35% – foi o ano do Plano Collor 1 e do confisco do dinheiro que os brasileiros tinham em suas contas. A segunda maior queda já registrada foi em 1981, quando o PIB caiu 4,25% na esteira da crise da dívida externa brasileira.

A nova revisão da estimativa acontece em meio à pandemia do novo coronavírus – que tem derrubado a economia global e colocado o mundo no caminho de uma recessão. Ao estimar uma contração do PIB de 4,7% em 2020, o governo informou ter considerado diversas fontes de dados que indicassem o nível da atividade no mês de abril e, também, “a hipótese de que a quarentena ocorrerá no mês de maio”.

Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram um recuo de 4,11% para o PIB neste ano. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetam queda do PIB brasileiro de, respectivamente, 5% e 5,3%.

Na terça-feira, o Banco Central (BC) informou que seu cenário básico engloba uma queda forte do PIB na primeira metade deste ano, seguida de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre de 2020.

Para 2021, 2022 e 2023, respectivamente, o Ministério da Economia projetou um crescimento de 3,2%, de 2,6% e de 2,5% para o PIB brasileiro.

Meta fiscal. A retração do PIB representará queda da arrecadação federal neste ano. Entretanto, o governo não terá de efetuar bloqueio de gastos públicos. O contingenciamento seria necessário para tentar atingir a meta de um déficit primário (despesas maiores do que receitas, sem contar juros da dívida pública) de até R$ 124,1 bilhões em 2020.

Entretanto, com a aprovação do decreto de calamidade pública pelo Congresso Nacional, a meta fiscal, que consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, não precisará ser atingida.

Inflação. Segundo previsão da Secretaria de Política Econômica, a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, passou de 3,12% para 1,77%.

Na semana passada, o mercado financeiro estimou um IPCA de 1,76% para 2020.

A expectativa de inflação do mercado para este ano segue abaixo da meta perseguida pelo Banco Central de 4,0%. O intervalo de tolerância do sistema de metas varia de 2,5% a 5,5%. A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o BC eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic). Hoje, essa taxa está em 3,0%.

No ano passado o IPCA fechou em 4,31%, acima do centro da meta para o ano, que era de 4,25%. Foi a maior inflação anual desde 2016.

Nova conta

1,77%

é a previsão da Secretaria de Política Econômica para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, deste a expectativa anterior era de 3,12%