Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Política, p.5

 

"Namoros" para o MEC

Ingrid Soares

23/06/2020

 

 

GOVERNO » Bolsonaro recebeu o atual 2º da pasta. Hoje, almoça com secretário de Educação do PR. São os mais cotados

Em busca de um novo nome para comandar o Ministério da Educação (MEC), Jair Bolsonaro tem sabatinado, ao longo dos últimos dias, possíveis candidatos. A previsão é de que, hoje, o presidente se encontre com o secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, cotado para suceder Abraham Weintraub – ele esteve na posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, e ali conversou com Bolsonaro.

O presidente telefonou para Ratinho Júnior, na semana passada, para falar sobre o interesse em Feder e recebeu o aval do governador do Paraná. Na linguagem de Bolsonaro, o encontro seria um “namoro” e serviria para sacramentar a eventual indicação. Contra ele — que é empresário do setor de tecnologia — pesa o fato de ter sido um dos maiores doadores na campanha de João Doria, em 2016, principal desafeto político do presidente, contribuindo com R$ 120 mil.

Ontem, Bolsonaro se reuniu com o secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, também cotado para a pasta. Vogel, no entanto, tachou o encontro como de “apenas assuntos técnicos”.

E o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União ingressou com uma representação para que a Corte apure a suposta participação irregular do Itamaraty na viagem de Weintraub para os Estados Unidos, no sábado. Na avaliação do sub-procurador Lucas Furtado, pode ter havido desvio de finalidade da Chancelaria, pois o ingresso do ex-ministro em Miami, sem caráter oficial, ocorreu com uso do passaporte diplomático.

Na representação, Furtado ressalta que a viagem não tinha caráter oficial, “o que lhe retira a finalidade pública” e, por isso, o documento diplomático não poderia ter sido utilizado. Os EUA impuseram restrições de entrada e saída por causa da pandemia do novo coronavírus. A condição de ministro, portanto, foi fundamental para o desembarque de Weintraub naquele país. O Itamaraty foi procurado, mas não se pronunciou.

O MP quer saber, também, por que Weintraub “só teve sua exoneração formalizada depois de” entrar nos EUA.