Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Brasil, p.7

 

Secretário sai após 37 dias

23/06/2020

 

 

O Estado do Rio de Janeiro registrou, ontem, 58 mortes por covid-19 e 1.439 novos casos da doença no período de 24 horas, segundo boletim divulgado na noite de ontem pela secretaria estadual de Saúde, mas nada disso impediu que perdesse mais um secretário de Saúde. Fernando Ferry, que entrou no lugar de Edmar Santos, em 17 de maio, pediu demissão ontem. Seu substituto será o coronel do Corpo de Bombeiros Alex da Silva Bousquet.

Na saída, Ferry fez um desabafo. “Queria dizer que eu tentei. Eu agradeço ao governador por ter me dado esta oportunidade de tentar resolver estes graves problemas que estamos vendo na saúde. Eu só queria dizer mais uma coisa: peço desculpas à população”, disse Ferry, em um vídeo gravado.

Na última quarta-feira, ao ser questionado se havia “muita lama nos contratos da gestão passada”, ele disse: “Não posso julgar (...) mas, como cidadão, eu acho que tem”. Isso o teria colocado em rota de colisão com o governador Wilson Witzel, mas fontes da Secretaria de Saúde afirmam que se demitiu devido à pressão que vinha sofrendo para pagar contratos –– alguns desses têm sido alvo de investigações, dentre os quais os de construção dos hospitais de campanha para atender as vítimas da covid-19 e os para aquisição de equipamentos de saúde.

Novo secretário de Saúde, Bousquet tem 43 anos e é médico do Grupamento de Socorro de Emergência e trabalhou no Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj).

O Estado se aproxima da marca de 9 mil mortes pela doença: agora são 8.933. Os casos de covid-19 chegam a 97.572. Se fosse um país, seria o 19º do mundo com mais infectados.

Os dez municípios que concentram mais óbitos por covid-19 são a capital (5.875), Duque de Caxias (372), São Gonçalo (351), Nova Iguaçu (317), Niterói (176), São João de Meriti (176), Belford Roxo (162), Magé (126), Itaboraí (115) e Mesquita (101). Os dez municípios com maior número de casos são o Rio de Janeiro (50.922), Niterói (5.426), São Gonçalo (4.026), Nova Iguaçu (2 977), Duque de Caxias (2.655), Itaboraí (2.114), Angra dos Reis (1.864), Macaé (1.785), Queimados (1.527) e Campos dos Goytacazes (1.502).

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No Rio, ninguém sabe se a bola rola

Maíra Nunes

João Romariz*

23/06/2020

 

 

É grande a confusão dentro e fora dos campos por causa do retorno dos jogos de futebol, no Brasil, movimento liderado por Flamengo. A retomada do Campeonato Carioca ocorreu na última quinta-feira, um dia antes de o Estado do Rio de Janeiro registrar o pico de novos casos confirmados da covid-19 em um dia, quando somou 6.061 contaminados em apenas 24 horas. Após terem sido disputados duas partidas da Taça Rio –– Bangu x Flamengo e Portuguesa x Boavista ––, a Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj) adiou, no últiumo domingo, as quatro partidas restantes da quarta rodada do torneio para as próximas sexta-feira e sábado.

A decisão foi tomada para respeitar o decreto publicado, no último sábado, pelo prefeito Marcelo Crivella, que determinou a suspensão dos jogos do Estadual na capital até quinta-feira, dia 25. Os confrontos do fim de semana afetados foram Botafogo x Cabofriense, Vasco x Macaé, Fluminense x Volta Redonda e Madureira x Resende. Em um vídeo enviado à imprensa, o prefeito explicou que a medida visou atender Botafogo e Fluminense, os dois clubes contrários à volta do futebol em junho, que creem ser uma decisão precipitada diante da situação da pandemia do novo coronavírus no Rio.

O alvinegro e o tricolor retornaram aos treinos apenas no final da semana passada. Ainda assim, tentam na Justiça o adiamento dos respectivos confrontos, válidos pelo Campeonato Carioca. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) recusou o pedido dos dois. Na data marcada inicialmente para o Flu entrar em campo (22/6), o clube postou uma imagem em preto e branco em homenagem aos 50 mil mortos pelo coronavírus no Brasil. Já o Botafogo divulgou que testou 353 pessoas, entre funcionários, atletas e parentes. Ao todo foram 17 positivos, sendo cinco deles jogadores.

Enquanto o Carioca foi retomado na véspera de o estado registrar o maior número de infectados em 24 horas, as ligas nacionais e da Espanha e da Alemanha levaram, respectivamente, 71 dias e 57 dias, para reabrirem as atividades, depois dos picos de casos em cada um dos países. As competições nacionais da Itália, que teve o auge da doença em março, e do Reino Unido, em abril, não anunciaram datas para a retomada ainda. O Campeonato Francês, por sua vez, antecipou o término do torneio sem volta aos jogos.

No Rio, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, minimizou os impasses no Carioca. “Tivemos que realizar uma série de readequações, inclusive de quando iríamos voltar com as atividades e, consequentemente, com os campeonatos”, explicou.

* Estagiário sob supervisão  de Fabio Grecchi