Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Cidades, p.18

 

Ibaneis presta queixa contra Renan

Roberta Pinheiro

23/06/2020

 

 

INVESTIGAÇÃO » Extremista é acusado de ameaçar e xingar o governador do Distrito Federal e deverá responder por injúria e difamação. Ele é o mesmo que hostilizou enfermeiras na Praça dos Três Poderes, além de ser investigado por lançar fogos em direção ao STF

O governador Ibaneis Rocha (MDB) apresentou ontem queixa-crime contra o extremista Renan da Silva Sena, 57 anos. Em vídeo de pouco mais de 2 minutos, gravado na Esplanada dos Ministérios, ele chamou o chefe do Palácio de Buriti de “bandido” e difamou outros representantes de instituições da República, como o Supremo Tribunal Federal (STF), xingando-os de “bandidos” e “vagabundos”. Renan Sena é o mesmo que, em maio, hostilizou e agrediu verbalmente enfermeiras que estavam em um protesto silencioso na Praça dos Três Poderes.

De acordo com Cléber Lopes, advogado especialista em direito penal que representa o governador na ação, Renan será citado para responder a acusação. “O juiz vai receber a defesa do acusado, mas, como ele confessou o crime no depoimento, acredito que, dificilmente, será absolvido”, avaliou. “Nós esperamos que seja uma sentença condenatória na medida em que estão caracterizados os crimes de injúria e difamação. A liberdade de expressão não pode ser confundida com a autorização para praticar crimes, tem o limite, que é a legalidade”, concluiu.

Renan foi preso, em 14 de maio, por gravar vídeos xingando o governador e com ataques ao Supremo Tribunal Federal (SFT) e ao Congresso Nacional e liberado após pagamento de fiança. O Correio flagrou o momento da prisão, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), por agentes à paisana da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), da Polícia Civil do Distrito Federal.

Na filmagem, os agentes surgem em um carro descaracterizado e abordam o homem. Nesse momento, Renan estava acompanhado de um grupo de bolsonaristas. O restante dos membros tentou impedir a ação da polícia. Uma mulher inclusive chegou a ser detida no Complexo da Polícia Civil.

Outras acusações

Em 17 de maio, a Justiça concedeu a quebra de sigilo telefônico do celular do extremista. A informação foi confirmada ao Correio por uma fonte ligada à Polícia Federal. O aparelho de Renan foi apreendido logo após a prisão dele e, desde então, estava em custódia. A análise do conteúdo pode ajudar em investigações sobre o ataque com fogos de artifício ao STF. Em outro vídeo, Renan aponta os fogos contra o prédio do Supremo e dispara mais ameaças. O ataque, que teve a participação de integrante do grupo 300 do Brasil, liderado por Sara Giromini, mais conhecida como Sara Winter, culminou na exoneração do então subcomandante da Polícia Militar, Sérgio Luiz Ferreira de Souza. Sara está presa no Presídio Feminino (Colmeia).

Além disso, Renan está citado em outro suposto crime. Estudantes atacadas durante manifestação pró-governo em 7 de junho, na Esplanada, o reconheceram como um dos agressores. As jovens passavam de carro, com duas crianças, de 3 e 10 anos, próximas aos manifestantes quando teriam sido atacadas. Ao verem as imagens da prisão do bolsonarista, reconheceram-no e foram à Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) acrescentar ao depoimento já registrado.

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Dono de chácara suspeito de financiar extremistas

Thais Umbelino

23/06/2020

 

 

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o empresário André Luís Bastos de Paula Costa como um dos financiadores de grupos extremistas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na capital. A suspeita teve início a partir de operação da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor), no último domingo. Na chácara de Arniqueiras, da qual o goiano é proprietário, foi encontrado um tipo de base para receber manifestantes a favor de Bolsonaro. “O dono do imóvel é um integrante de um desses grupos que vem emitindo declarações ameaçadoras e injuriosas em redes sociais, inclusive com ameaça ao governador do DF (Ibaneis Rocha). Isso pode ser um indício de que ele seja um dos financiadores do grupo, justamente por disponibilizar a propriedade para o grupo realizar as ações”, disse o coordenador da Cecor, Leonardo de Castro.

Por causa disso, a Polícia Civil intimará o goiano a prestar depoimento sobre o caso, mas não há uma data prevista. “Algumas pessoas foram chamadas para prestar depoimentos, e outras serão ao longo da semana”, informou Leonardo. ”O empresário também é investigado na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) por gravar ameaças a Ibaneis. “Nós vamos mostrar para o senhor com quem o senhor mexeu”, afirmou o empresário, em vídeo.

À época, o chefe do Executivo local declarou não admitir ameaças e que iria “pedir a prisão de todos que agirem com truculência”. De acordo com Letizia de Lourenço, delegada adjunta da DRCC e responsável pelo caso, o suspeito ainda não foi chamado para prestar depoimento sobre os vídeos. “Estamos investigando muitos casos de ameaças e no meio da investigação. Por enquanto, não vamos divulgar nenhuma informação para não comprometê-la”, explicou.

Participaram da operação realizada na chácara de André Luiz policiais da Cecor, da Divisão de Operações Especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA). O objetivo, segundo o delegado Leonardo, era investigar supostos crimes de milícia privada, ameaça e porte de armas “E aí, sim, chegar a quem está financiando esses crimes”, acrescentou o coordenador da Cecor.

Até o momento, porém, a Polícia Civil não confirmou a formação de milícias por esses grupos extremistas. “A gente acredita que a ação de ontem (domingo) tenha um resultado positivo, na medida em que foram apreendidos aparelhos celulares de integrantes do grupo, documentos manuscritos e as imagens de segurança do local. Isso tudo ainda vai ser analisado e pode ser, sim, que isso contribua bastante para a investigação”, concluiu Leonardo.