Correio braziliense, n. 20851 , 24/06/2020. Política, p.2

 

Cotada para Educação elogia presidente: "Estadista"

Maíra Nunes

Renata Rios

24/06/2020

 

 

Mais cotado para assumir o Ministério da Educação, Renato Feder se reuniu, ontem, com o presidente Jair Bolsonaro. O encontro reforça que o governo acena com um nome de perfil mais técnico para o comando da pasta, numa tentativa de amenizar a crise deixada pelo ex-ministro Abraham Weintraub. Em entrevista ao Correio, o atual secretário de Educação do Paraná classificou o chefe do Executivo de “estadista” e afirmou que ele está “realmente preocupado em fazer uma nomeação ponderada”.

Feder enfatizou que, se escolhido, tem a intenção de restabelecer o diálogo entre o MEC e as secretarias estaduais e municipais de educação. Ele também reforçou a importância da autonomia das universidades federais. “A visão é de que o MEC deve apoiá-las. As universidades têm a independência, que é muito importante. O MEC tem de construir com a universidade sempre e auxiliar no que ela entende ser necessário para que o aprendizado seja melhor”, afirmou.

De acordo com Feder, Bolsonaro quis informações sobre a volta às aulas. “De como foi o retorno nos outros países, como ajudar os municípios e estados, qual o protocolo a seguir que minimiza o risco de contaminação de toda a comunidade escolar, o respeito ao momento correto de cada localidade do Brasil de retornar. Tudo isso o presidente está preocupado e querendo ver como o ministério pode ajudar as secretárias”, frisou.

Com um currículo extenso, Feder é mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e graduado em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Como secretário de Educação do Paraná, aliou educação e tecnologia e modernizou o ensino do estado. No enfrentamento à pandemia, criou o Aula Paraná, um sistema de ensino a distância, que foi implementado em apenas 15 dias e contempla aulas virtuais pelo Google Classroom, mais de 930 mil downloads do aplicativo e três canais de televisão aberta. O estado conta também com internet gratuita para 1,07 milhão de estudantes e 100 mil profissionais da área da educação.

Ele também implementou o sistema de Chamados On-line, com a finalidade de reduzir a evasão escolar e envolver a família com a educação dos jovens. A Prova Paraná, que afere a evolução da aprendizagem de jovens de todo o estado — cerca de 1 milhão, a cada dois meses —, foi destaque nacional. Outro projeto implementado na gestão dele é o currículo Paraná, que conta com aulas de programação de computadores, empreendedorismo e matemática financeira.

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Revogada portaria contra cotas

Renata Rios

24/06/2020

 

 

O Ministério da Educação (MEC) revogou a portaria assinada, em 18 de junho, pelo então titular da pasta, Abraham Weintraub, que acabava com incentivo à reserva de vagas para negros, índios e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação nas universidades federais. A decisão foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União (DOU), assinada por Antonio Paulo Vogel de Medeiros, ministro interino da pasta.

A decisão de Weintraub — no último ato dele como ministro da Educação — tinha recebido uma enxurrada de críticas, inclusive no Congresso. Três partidos, a Rede Sustentabilidade, o PDT e o PSB, chegaram a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a medida. O ministro Gilmar Mendes, integrante da Corte, em atendimento às legendas, tinha dado prazo de 48 horas para a Advocacia-Geral da União se manifestar sobre o caso.

Para o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a postura de Weintraub, na ocasião, pode ser lida como uma forma de afirmar à base bolsonarista que, apesar de sair do governo, estava lutando pelas ideias do grupo. “O Weintraub é mais bolsonarista do que o próprio Bolsonaro. Ele mobiliza o bolsonarismo nas redes sociais e nas ruas. Pelo menos era assim como ministro, não sei se terá condições, agora, fora do cargo”, afirmou.

Esse não foi o primeiro recuo do governo na área da Educação. No começo deste mês, o presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 979 dando poder a Weintraub de escolar reitores para universidades e institutos federais durante a pandemia da covid-19, sem consultar a comunidade acadêmica. Diante do repúdio geral, o Congresso devolveu a MP ao Executivo, que acabou anulando o efeito dela.

A MP 979 era uma nova roupagem para a medida provisória publicada em dezembro, fixando pesos diferentes de voto para funcionários, professores e alunos na eleição de reitores de universidades federais, o que feria a autonomia das instituições. O Congresso deixou a MP caducar.