Título: Espanha rebate versão de agressão a músico
Autor: Ed Wanderley ; Lisbôa, Anna Beatriz
Fonte: Correio Braziliense, 29/12/2012, Brasil, p. 7

Embaixada do país europeu no Brasil divulga comunicado e afirma que o maestro Israel de França estava armado e alcoolizado no momento da abordagem de policiais. O artista diz ter sido espancado por motivos raciais e se reúne com cônsul brasileiro hoje

Recife e Brasília — O maestro pernambucano Israel de França, 47 anos, que disse ter sido agredido por motivos raciais por integrantes da Polícia Nacional, na cidade de Granada, Espanha, se reunirá hoje com o cônsul-geral adjunto do Brasil em Madri, Cícero Garcia. O encontro ocorre um dia após a Embaixada da Espanha no Brasil rebater, em comunicado oficial, a versão do brasileiro sobre o suposto espancamento sofrido na noite do último domingo. Na pauta da reunião, o cônsul tratará dos encaminhamentos a serem feitos sobre a investigação do caso e as medidas protetivas que podem ser oferecidas ao violinista enquanto o inquérito permanecer em andamento.

Em carta aberta aos veículos de comunicação, o embaixador Manuel de la Cámara Hermoso alega que tanto as motivações racistas quanto xenófobas, cogitadas pelo maestro no incidente, seriam infundadas e injustas. “Com relação às motivações racistas, acredito que é uma acusação injusta”, afirma trecho do documento. “Há 22 anos, o Sr. França reside na Espanha sem problemas, estando perfeitamente integrado na sociedade espanhola e trabalhando como empregado municipal, sendo membro da Orquestra Ciudad de Granada.” Na versão da polícia, os agentes teriam sido chamados por outros clientes sob a alegação de que o brasileiro estaria bêbado e teria entrado em confronto com um homem no restaurante em que se encontravam.

Além disso, de acordo com os policiais espanhóis, o músico teria se negado a apresentar um documento de identificação e portava uma arma branca. Os profissionais também negaram qualquer tipo de agressão. Israel de França considera as acusações absurdas. “Não houve confusão. Nunca usei arma de nenhum tipo na minha vida. Eles precisam provar o que estão dizendo.”

Bastante abalado com a repercussão que o caso tomou, e com o posicionamento de jornais locais, o maestro Israel de França procurou o restaurante em busca das imagens do circuito interno de segurança para provar como ocorreu a abordagem policial. “O dono disse que a câmera é só para intimidar, que não funciona. Não passei 10 minutos no local. Nem cheguei a terminar o primeiro copo de chope quando eles chegaram. Se eu estava com uma faca, onde ela, que deveria ter minhas digitais, está?”, questiona.

O músico conta que estava em um restaurante em Granada acompanhado de um amigo brasileiro, quando foi retirado do local pela polícia, sem motivo. Ele diz que foi levado a um edifício e espancado por três agentes da Polícia Nacional da Espanha. Enquanto França era agredido, o colega, branco, foi mantido do lado de fora do prédio, ileso. O maestro explica que, embora nunca tivesse sofrido agressões físicas antes, já foi alvo de racismo em outras ocasiões no país europeu. “O preconceito existe. Tentei alugar um apartamento para meu irmão, mas os vizinhos não quiseram, porque éramos negros.” França explica que prestou queixa na Justiça espanhola e que o caso está sendo acompanhado pelo governo brasileiro. “Estou recebendo apoio, principalmente da embaixada brasileira e do governo de Pernambuco. O governador Eduardo Campos (PSB) está acompanhando o caso e exigindo explicações.”

Casado com uma espanhola e pai de um filho nascido no país, França diz que, embora queira acompanhar as investigações até o fim, pensa na possibilidade de voltar para o Brasil. “Eles não têm cara e palavra para assumir o que fizeram. Estou começando a ver se no Brasil há espaço para minha área. Acho que já deu para mim aqui.”

Por meio da assessoria de imprensa, o Itamaraty esclareceu que acompanha o caso. De acordo com o órgão, o cônsul do Brasil em Madri tem se reunido com autoridades policiais da Espanha para garantir uma investigação rigorosa do caso. Além de encontrar-se com França, o cônsul-geral adjunto do Brasil em Madri, Cícero Garcia, acompanha a apuração do incidente com a polícia de Granada.