O globo, n.31705, 27/05/2020. Especial Coronavírus, p. 11

 

Governo impõe quarentena remunerada a Mandetta

Natália Portinari

27/05/2020

 

 

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República determinou, ontem, um período de quarentena remunerada de seis meses a Luiz Henrique Mandetta. O ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro deve aguardar este período antes de exercer qualquer atividade no setor privado.

Isso significa que Mandetta continuará recebendo o salário de ministro durante o prazo, de cerca de R$ 31 mil, conforme previsto em lei para casos do tipo. O ex ministro fez uma consulta à comissão, segundo o presidente Paulo Henrique dos Santos Lucon, sobre se poderia atuar na área de saúde em organizações privadas.

— Não é vantagem para ele (a quarentena), porque na área privada ganharia mais. Mas ele tem informações privilegiadas na área de saúde, e não poderia atuar no setor privado —disse Lucon ao GLOBO.

Quando Mandetta foi demitido do ministério, em abril, o DEM ofereceu a ele um cargo de consultor, para que pudesse continuar aconselhando governadores e prefeitos na crise do coronavírus. Ele aguardava a liberação da Presidência para poder assumir o posto.

Ex-deputado federal, Mandetta assumiu o cargo de ministro da Saúde já no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019. Médico ortopedista, durante sua atuação parlamentar fez forte oposição ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Ele ganhou evidência no início da pandemia do novo coronavírus e deixou o cargo, em 16 de abril, com 76% de aprovação segundo pesquisa Datafolha.

Mesmo saindo em meados de abril, o clima de tensão entre ele e Bolsonaro já se arrastava há algumas semanas, devido a divergências na condução da crise. O presidente falou reiteradamente sobre o desejo de afrouxar as medidas de distanciamento e retomar a circulação de pessoas para não prejudicar a economia, o que contrariava a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) seguida por diversos países. Ele foi substituído em seguida pelo oncologista Nelson Teich, que ficou apenas 29 dias no cargo.