Correio braziliense, n. 20851 , 24/06/2020. Mundo, p.14

 

UE mantém portas fechadas ao Brasil

24/06/2020

 

 

União Europeia formula duas listas com proibição de entrada no bloco a turistas brasileiros, norte-americanos e russos, revela o jornal The New York Times. Critério adotado seria a gestão da pandemia feita pelos governos e a alta taxa de infecção

Os brasileiros com planos de aproveitar a reabertura de parte da Europa, a partir de 1º de julho, e visitar o Velho Continente precisarão remarcar a viagem e exercitar a paciência. A alta taxa de infecção do novo coronavírus levou a União Europeia (UE) a estudar a manutenção dos brasileiros na lista de visitantes indesejáveis. O jornal The New York Times teve acesso ao rascunho de duas listas de turistas aptos a entrar no bloco. Uma delas admite a entrada no continente a cidadãos de 47 países, outra envolve 54 nações. Ambas, no entanto, vetarão turistas de Brasil, Rússia e Estados Unidos.

Uma autoridade da UE confirmou a autenticidade dos documentos, enquanto outros dois atestaram o seu conteúdo e os detalhes das negociações. De acordo com o NY Times, as listas foram formuladas com base em uma combinação de critérios epidemiológicos. “O critério será focado na circulação do vírus”, afirmou ao jornal um diplomata da UE, sob condição de anonimato. Ele reforça que a intenção seria manter afastados viajantes de países “onde o vírus circula mais ativamente”. A agência France-Presse divulgou que a gestão que os governos têm feito durante a pandemia pesou na decisão.

A expectativa é de que as versões finais da lista sejam divulgadas na próxima semana. O presidente dos EUA, Donald Trump, não comentou diretamente a revelação do NY Times, mas tratou de explicar o alto número de infecções pela covid-19 no país. “Os casos estão subindo porque estamos testando muito mais do que qualquer outra nação, e expandindo ainda mais. Com menos testes, veríamos menos casos!”, escreveu no Twitter.

Não está claro se os Estados Unidos foram informados de antemão de que seus cidadãos não poderão entrar na UE. As listas contemplariam cidadãos da China, onde a pandemia teve início; de Uganda; de Cuba e do Vietnã. As fontes disseram ao jornal nova-iorquino que se os Estados Unidos registrarem uma redução no número de casos da covid-19 poderiam ser incluídos na lista de nações aceitáveis em breve. No entanto, acrescentaram ser “altamente improvável” que se faça uma exceção com os Estados Unidos. “Discussões estão ocorrendo de modo muito intenso” para se atingir um consenso até 1º de julho, segundo Adalbert Janz, porta-voz da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE. As listas sofreriam uma revisão a cada duas semanas, a fim de refletir novas realidades no panorama mundial, à medida que o novo coronavírus reduz o ritmo de contágios ou reaparece com intensidade.

O Correio entrou em contato com o Itamaraty para saber o posicionamento do governo brasileiro, mas não obteve resposta. Até o fechamento desta edição, os Estados Unidos contabilizavam 2.338.275 casos da covid-19 e 121.119 mortes. O Brasil aparecia em segundo lugar, com 1.151.479 registros de infecção e 52.771 óbitos, seguindo pela Rússia, com 598.878 casos e 8.349 mortes.

Média

Para a formulação das listas, a União Europeia analisou o número médio de novas infecções pela covid-19. Nos últimos 14 dias, enquanto o bloco registrou 16 contágios a cada 100 mil pessoas; os Estados Unidos, o Brasil e Rússia tiveram índices bem maiores, respectivamente, 107, 190 e 80. Apesar de todos os 27 países-membros da UE não serem obrigados a executar o veto aos turistas, ao não cumprimento das recomendações pode reinstalar o controle fronteiriço dentro do bloco.

A UE fechou suas fronteiras, em 16 de março passado, permitindo a entrada somente de cidadãos “estritamente necessários”, como a repatriação de europeus em países terceiros. A restrição ao acesso também valeu para os 27 países-membros, além de Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.

190

Número de infectados com o novo coronavírus a cada 100 mil habitantes no Brasil

2.338.275

Total de casos de covid-19 registrados nos Estados Unidos até o fechamento desta edição