Título: Conflito preocupou o Brasil
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 29/12/2012, Mundo, p. 16

Dois meses depois de ter eclodido o conflito entre Argentina e Inglaterra pelas ilhas Malvinas, o governo brasileiro tentava decifrar as razões que levaram Buenos Aires a tomar militarmente a região. Entretanto, relatórios produzidos pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN), em 1982, previa que a derrota influenciaria na política do país vizinho, que também era governado por militares. Os documentos mostram, ainda, um temor do Palácio do Planalto de que os Estados Unidos se instalassem no Atlântico Sul.

A invasão argentina ao arquipélago das Malvinas intrigou os brasileiros. “Perduram as incertezas acerca das razões que teriam levado a junta do governo da Argentina a iniciar, de modo intempestivo, sua aventura nas Malvinas”, aponta um relatório de análise da conjuntura política nacional, elaborado em junho de 1982, pelo CSN.

“Razões históricas, complexo de expansionismo, necessidade de reaglutinação interna, imposição da Marinha, ambições econômicas na área das Malvinas, entre outros fatores endógenos, frequentemente apontados como motivadores da ação, teriam fornecido, com razoável antecedência, indícios reveladores das pretensões argentinas”, analisa o Conselho de Segurança Nacional do governo brasileiro.

Conforme o relatório, havia a hipótese de ter surgido um fato novo que precipitou a invasão de Malvinas pelos argentinos. Conforme o documento um dos motivos poderia ser o arrendamento da ilha britânica para os EUA.

Inquietação Além disso, a ação da Argentina trouxe também uma onda de inquietação entre os governantes. “O conflito das Malvinas conseguiu, no mínimo, desarrumar, literalmente, os mecanismos de solidariedade entre as nações do continente americano”, observa um dos relatórios do CSN. “À Argentina pode ser creditada a integral responsabilidade por essa desarrumação. Afinal, o uso insensato da força, em si condenável, e a avaliação superficial argentina acerca das consequências internacionais de sua atitude é que ensejam a reação militar britânica para a retomada das Malvinas e a atitude norte-americana, perfeitamente previsível, de apoio à sua principal aliada na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).”

Os brasileiros avaliaram que a Argentina passaria por problemas políticos em decorrência da derrota para os britânicos. A ditadura, que caiu um ano depois, estava sob ameaça. “Mais preocupantes do que os resultados militares adversos à Argentina, são as sequelas provocadas pelo conflito nos campos políticos, com o abalo total dos sistemas político de governo, e econômico, pelos gastos com a guerra e pelas sanções da CEE (Comunidade Econômica Europeia)”, avalia o governo brasileiro, em 1982. Um ano depois, a situação era a mesma, com exceção de que os argentinos, mesmo com dificuldades, continuava investindo em armamentos. “O que é preocupante”, analisa o conselho.

“Nunca, jamais, pensei que a Argentina invadiria diretamente as Malvinas. Foi uma ação tão estúpida”

“Foi o pior dia da minha vida. (…) Aquela noite ninguém soube me dizer como poderíamos recuperar as Falklands (nome inglês das Malvinas). Ninguém. Não sabíamos, não sabíamos”

Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do Reino Unido