O globo, n. 31713, 04/06/2020. País, p. 7

 

Moro se diz ‘perplexo’ após Aras desengavetar delação

Bela Megale

04/06/2020

 

 

Para o ex-ministro, causa ‘indignação’ a decisão do PGR de retomar acordo baseado ‘em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro’ 

 

PABLO JACOB/24-4-2020Sob ataque. O ex-ministro Moro, que criticou decisão de Aras sobre delação que envolve amigo

 O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse ontem que ficou “perplexo” e “indignado” com decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de desengavetar uma delação que atinge seu amigo, o advogado Carlos Zucolotto.

Como O GLOBO revelou ontem, a PGR negocia um acordo com Rodrigo Tacla Duran, que disse ter pago dinheiro a Zucolotto para obter vantagens em seu acordo de delação premiada com a Lava-Jato em 2016. O relato já foi alvo de investigação e acabou arquivados em 2018. Setores do MPF veem o ato com uma retaliação contra o ex-juiz.

“Causa-me perplexidade e indignação que tal investigação, baseada em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro, e que já havia sido arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da Procuradoria-Geral da República logo após a minha saída, em 22 de abril de 2020, do governo do presidente Jair Bolsonaro” afirmou Moro, em nota.

O ex-ministro disse ainda que “ninguém está acima da lei” e que ele se dispõe a prestar esclarecimentos sobre os fatos. Moro também afirmou que lamenta que “mais uma vez o nome de um amigo seja utilizado indevidamente para atacar a mim e o trabalho feito na operação Lava Jato”. O ex-ministro disse ainda que “relato não verdadeiro prestado por acusado foragido do país teve o destino apropriado: o arquivamento”.

Fontes próximas a Tacla Duran afirmam que ele decidiu procurar Aras para uma nova tentativa de acordo por acreditar que o novo PGR não está alinhado com os procuradores da Lava-Jato e, por isso, estaria disposto a ouvi-lo.

Caso o acordo se concretize, será a segunda delação de Augusto Aras desde que assumiu o comando da PGR, em setembro do ano passado. Antes, o procurador fechou acordo com o empresário Eike Batista, mas a ministra Rosa Weber não concordou com os termos e devolveu a colaboração para que fossem feitos ajustes.

Ao indicar Aras, Bolsonaro fez uma opção pessoal e rompeu com a tradição de escolher um dos nomes da lista tríplice formada por votação interna da categoria. Bolsonaro tem feito elogios à atuação de Aras à frente do órgão e até sinalizou com uma possível indicação dele ao cargo de ministro do STF.