Correio braziliense, n. 20852 , 25/06/2020. Economia, p.11

 

9,7 milhões de bolsos vazios

Marina Barbosa

25/06/2020

 

 

Pnad Covid-19 mostra que, num universo de 19 milhões de trabalhadores afastados das suas atividades por causa da pandemia, mais da metade não obteve qualquer rendimento em maio. A retomada econômica será lentíssima

A pandemia do novo coronavírus deixou 9,7 milhões de brasileiros sem salário em maio. São trabalhadores que perderam renda, seja porque tiveram o contrato suspenso ou porque não puderam manter suas atividades informais, diante das medidas de isolamento social impostas pela covid-19. Os dados são da Pnad Covid-19, apresentada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com a pesquisa, o Brasil tem, atualmente, 84,4 milhões de trabalhadores, porém 19 milhões estavam afastados das atividades profissionais em maio, em grande parte por conta da pandemia. E mais da metade desses 19 milhões (51,3%) foi afastada sem nenhuma contrapartida financeira, o que os levou a ficar sem remuneração no mês passado.

“Nós já sabíamos que havia uma parcela da população afastada do trabalho e, agora, a gente sabe que mais da metade dela está sem rendimento”, comentou o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.

Mas mesmo quem continuou trabalhando corre o risco de receber menos. É que 18,3 milhões de pessoas disseram trabalhar menos do que a jornada habitual, segundo o IBGE. Por isso, a média semanal de horas efetivamente trabalhadas no país caiu de 39,6 horas para 27,4 horas em maio. E isso derrubou em 18,1% o rendimento efetivo do profissional, que saiu de R$ 2.320 para R$ 1.899 no mês passado. Por isso, a massa de rendimentos gerada no país ficou abaixo dos R$ 200 bilhões.

Esses números mostram que as medidas de flexibilização trabalhista anunciadas pelo governo durante a pandemia — como a MP 936, que permitiu a suspensão do contrato e a redução da jornada de trabalho — podem ter evitado uma explosão da taxa de desemprego. Mas não conseguiram conter uma queda da renda e do poder de compra dos trabalhadores, o que pode dificultar o processo de retomada da economia.

Pior: não há garantias sobre o controle da taxa de desemprego, hoje em 10,7%. As empresas ainda podem efetuar demissões, levando esse percentual a mais de 15%.