Título: Crise ofusca diplomacia
Autor: Mariz, Renata ; Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2012, Política, p. 2-4

A crise econômica na Europa, a gangorra dos Estados Unidos e os riscos de desaceleração da China tiraram o verniz da política externa brasileira este ano. Em Moscou, por exemplo, última escala internacional da presidente Dilma Rousseff em 2012, o Brasil saiu de mãos abanando no que se refere ao fim do embargo da carne suína. Na Europa e nos Estados Unidos, os problemas para as exportações brasileiras também não foram de todo resolvidos. Para completar, a Rio+20, que deveria ser o ponto alto da primazia do Brasil no cenário internacional, fechou um documento que, na prática, evitou maiores estragos, porém, não avançou como os brasileiros queriam. Mas nem só de problemas foi feito o 2012 de Dilma no cenário externo. O Brasil obteve uma série de vitórias como um partícipe ativo nas negociações que resultaram no ingresso da Palestina como estado observador na ONU. Em relação à Rio+20, ficou para a história como um evento bem organizado, onde tudo funcionou a contento. O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, classificou a conferência como a %u201Cmaior e mais participativa e inclusiva da história das Nações Unidas%u201D, que reforçou o processo multilateral de negociações, com destaque para a condução do Brasil. Apesar da leitura geral de que os resultados ficaram aquém daqueles que queríamos, em termos diplomáticos o Brasil se destacou como líder no desenvolvimento sustentável, na opinião de diplomatas brasileiros. %u201CO que o Brasil obteve ali será refletido por décadas, porque consolidou a visão multilateral e multisetorial, na qual não só o Itamaraty, mas também outras áreas de governo deram as cartas%u201D, avalia o embaixador Tovar Nunes, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores. O Brasil também se prepara para começar 2013 como protagonista no sentido da promoção de negociações pacíficas com o Irã, mas não como ocorreu no governo Lula, em que as propostas foram feitas distantes de fóruns internacionais. Desde que assumiu, Dilma mantém o equilíbrio nas relações com os demais países, sem dar maiores destaques a qualquer um deles, à exceção do Mercosul. Este ano evitou, por exemplo, receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que só soube que não teria um encontro com Dilma quando já havia desembarcado no Brasil para participar da Rio+20. Tampouco Ahmadinejad colocou o Brasil no tour que fez pelas Américas em janeiro de 2012. Na primeira semana de janeiro, o chanceler brasileiro se reúne em Izmir, na Turquia, com embaixadores suecos e turcos para discutir a questão nuclear do Irã. %u201CSe forem bem-sucedidos, o Brasil começará 2013 com uma importante vitória%u201D avalia o sociólogo e analista internacional da Arko Advice, Thiago Aragão. Quanto aos Estados Unidos, as relações se mantiveram no saldo positivo para os americanos, com a abertura de novos consulados e a perspectiva de mais brasileiros entupindo as lojas de Nova York e Miami. Mas, em termos de subsídios agrícolas, o Brasil continua com as mesmas dificuldades para colocar produtos à venda por lá.