Título: Modernização do país esbarra na descrença
Autor: Mariz, Renata ; Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2012, Política, p. 2-4

Os planos do governo para expandir os investimentos em infraestrutura, como construção e ampliação de portos, aeroportos e estradas, são vistos com ressalvas por investidores

Adriana CaitanoFrutos de intensas discussões no governo e apontados como os novos carros-chefe da gestão Dilma Rousseff, os planos de Investimento em Logística anunciados este ano estão sendo considerados por especialistas como perigosos para a imagem do país. Dilma dedicou parte do ano na elaboração de políticas voltadas à área de infraestrutura, com o objetivo de minimizar os gargalos que alimentam o chamado custo Brasil. Segundo empresários e analistas, essas dificuldades travam o crescimento do país e espantam investidores. Portos, aeroportos, rodovias e ferrovias receberão um aporte ambicioso de recursos públicos e privados. Serão R$ 209 bilhões ao longo de 25 anos. Mas o longo prazo de maturação dos investimentos e o formato da gestão desse dinheiro preocupam especialistas.

Para coordenar a execução dos planos, a presidente criou uma nova estrutura burocrática, batizada de Empresa de Planejamento e Logística (EPL), sob comando do ex-presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) Bernardo Figueiredo. A ideia é não mais tocar obras de forma isolada.

Na área de aeroportos, após muitas viagens para conhecer modelos de concessão e longas reuniões com técnicos, a presidente optou por dividir a administração dos maiores terminais com o setor privado e investir nas estruturas regionais. Em uma primeira etapa, anunciada em dezembro, serão R$ 7,3 bilhões para a ampliação da malha aeroviária, com a construção e recuperação de 270 terminais. Haverá também subsídios para os aeroportos com movimentação inferior a 1 milhão de passageiros por ano, para estimular investimentos e reduzir a diferença entre os preços das passagens de ônibus e de avião.

Longa espera Tanto a população quanto o setor privado, entretanto, vão ter de esperar para perceber os efeitos dos investimentos anunciados. O leilão de concessão dos aeroportos internacionais do Galeão, no Rio de Janeiro, e Confins, em Minas Gerais, por exemplo, está previsto para a segunda metade do ano que vem. “O que preocupa é que, na medida em que são feitos anúncios de investimentos elevados e inauguração de pedras fundamentais, cria-se uma falsa expectativa porque, com o passar do tempo, se percebe que os projetos não avançam na velocidade para a qual foram programados, despertando uma postura de maior cautela no setor privado”, comenta o economista e professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira. (Colaborou Leandro Kléber)