Correio braziliense, n. 20853 , 26/06/2020. Economia, p.9

 

Auxílio emergencial terá mais R$ 1,2 mil

Marina Barbosa

26/06/2020

 

 

Extensão do benefício foi anunciada ontem pelo presidente Jair Bolsonaro. Número de parcelas extras, no entanto, ainda não está definido. Se depender do governo, serão mais três: de R$ 500, R$ 400 e R$ 300

O presidente Jair Bolsonaro confirmou a prorrogação do auxílio emergencial de R$ 600. Em live realizada ontem à noite, ele disse que o governo decidiu pagar mais R$ 1,2 mil para os 64 milhões de brasileiros que estão dependendo do benefício para sobreviver à pandemia do novo coronavírus. Porém, avisou que esse valor extra deve ser transferido de uma forma diferente, por meio de uma parcela de R$ 500, outra de R$ 400 e uma última de R$ 300.

“Os números não estão definidos ainda. Mas a gente vai prorrogar por mais dois meses o auxílio emergencial, que vai partir para uma adequação. Serão, com certeza, R$ 1,2 mil em três parcelas. Basicamente deve ser dessa maneira. Deve ser, estamos estudando, R$ 500, R$ 400 e R$ 300”, informou Bolsonaro, tendo ao lado o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O governo teve ontem um dia cheio de reuniões para discutir o futuro do benefício. Na live, Bolsonaro disse que a prorrogação do auxílio emergencial visa “atender aos desassistidos”. Mas ressaltou que espera que o processo seja acompanhado pela reabertura das atividades econômicas Brasil afora, para que a economia, de fato, comece a sair dessa crise.

Custo

O presidente não cravou os valores das próximas parcelas porque há pressão da sociedade civil para que o valor de R$ 600 não seja reduzido. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, voltou a dizer que acha melhor o governo dividir os R$ 1,2 mil adicionais em duas parcelas de R$ 600. Bolsonaro, porém, defende a tese de que os R$ 1,2 mil sejam pagos de forma decrescente ao longo de três meses. “Quem é do Bolsa Família, quando passar para R$ 500, vai tá ganhando mais uma e meia Bolsa Família. Quando passar a R$ 400, equivale a duas. E R$ 300 é uma Bolsa Família e meia”, disse.

Paulo Guedes também defendeu a proposta. “É uma ideia muito boa, presidente. Porque estava em R$ 600 e, à medida que a economia comece a se recuperar, comece a andar novamente, as pessoas vão se habituando. Era R$ 600, cai para R$ 500, R$ 400”, comentou Guedes, que, dias atrás, havia defendido o pagamento de duas parcelas de R$ 300.

O ministro da Economia ainda informou que, com a prorrogação do auxílio emergencial, vai chegar a R$ 1 trilhão o impacto fiscal do pacote de enfrentamento ao novo coronavírus. E cerca de um quarto disso deve sair do auxílio emergencial. Só com as três primeiras parcelas de R$ 600, o programa chegou a R$ 151 bilhões. Com a transferência de mais R$ 1,2 mil para os trabalhadores, o orçamento deve aumentar em quase R$ 100 bilhões.

Guedes ressaltou que o número de brasileiros contemplados pelo benefício já chega a 64 milhões e, portanto, supera em muito as expectativas do governo, que, no início da pandemia, calculava pagar os R$ 600 para 40 milhões de pessoas.

O ministro lembrou, no entanto, que esse programa não deve ser definitivo. A ideia do governo é criar, mais adiante, um novo programa social, o Renda Brasil, que garanta a transferência de renda básica para os brasileiros que hoje são atendidos pelo Bolsa Família e também permita a formalização dos trabalhadores informais.

Terceira parcela

Paulo Guedes ainda indicou que o pagamento da terceira parcela do auxílio emergencial começa amanhã e segue até o sábado da próxima semana. O calendário é esperado por 40 milhões de trabalhadores. Até agora, só os 19,2 milhões que trocaram o Bolsa Família pelo auxílio emergencial começaram a receber a terceira parcela. Os que pediram os R$ 600 pelo aplicativo da Caixa ou pelo CadÚnico ainda aguardam a transferência. A expectativa é que o cronograma seja detalhado hoje pela Caixa Econômica Federal.

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Seguro-desemprego: em alta

Marina Barbosa

26/06/2020

 

 

A procura pelo seguro-desemprego continua alta no Brasil. Segundo o Ministério da Economia, 351,3 mil pessoas requereram o benefício apenas nos primeiros quinze dias deste mês. Com isso, subiu para 2,3 milhões o total de trabalhadores que precisaram recorrer ao seguro para garantir a renda, desde o início da pandemia da covid-19.

O número de pedidos protocolados na primeira quinzena de junho representa um aumento de 35% em relação às 260 mil solicitações registradas no mesmo período do ano passado. “No acumulado de 2020, foram contabilizados 3.648.762 pedidos. O número é 14,2% maior ao registrado no mesmo período de 2019 (3.194.122)”, informou o ministério.

A maior parte dessas solicitações — 64% — foi registrada durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com os dados do governo, na segunda quinzena de março, quando as primeiras medidas de distanciamento social foram implementadas no Brasil, 235 mil trabalhadores recorreram ao seguro-desemprego. E o número disparou com o endurecimento da quarentena e a consequente piora da saúde financeira das empresas: foram 748 mil pedidos em abril, 960 mil em maio e mais 351,3 mil na primeira metade de junho.

O Ministério da Economia destacou, porém, que, nas duas últimas quinzenas, o número de pedidos desacelerou. Segundo a pasta, os 351 mil requerimentos dos primeiros quinze dias deste mês mostram queda de 22,9% em relação aos últimos quinze dias de maio, quando 455,9 mil brasileiros deram entrada no benefício. Especialistas em mercado de trabalho, porém, alertam que isso não significa mudança na tendência de crescimento do desemprego desencadeada pela crise do novo coronavírus.

Ajustes

“O que esse número indica é que o pico já passou, pois as empresas realizaram um ajuste muito grande na folha de salários quando a quarentena teve início. Mas esse número ainda é muito ruim. E a tendência é que o desemprego continue avançando nos próximos meses, porque poderá haver novos ajustes quando as empresas reabrirem e perceberem que a retomada não será tão rápida, ou quando os acordos de redução de jornada acabarem”, disse a economista da Veedha Investimentos Camila Abdelmalack.

“Nós tivemos uma perda muito grande em maio, um choque que dificilmente veremos novamente. Por isso, agora a tendência é que continuem ocorrendo perdas do estoque de emprego, mas com uma intensidade um pouco menor", acrescentou Daniel Duque, pesquisador da FGV/Ibre. 

Segundo os economistas, a taxa de desemprego, que estava em 12,6% da população ativa e atingia 12,8 milhões de brasileiros no trimestre encerrado em abril, deve passar dos 15% neste ano em função dos impactos da crise do novo coronavírus no mercado de trabalho. “Eu diria que (o desemprego) pode até chegar perto dos 20% ao longo do ano. Esta foi uma crise sem precedentes, porque teve uma paralisação da oferta, e isso tem uma implicação direta no mercado de trabalho”, afirmou Camila.