O Estado de São Paulo, n.46231, 15/05/2020. Política, p.A8

 

Bolsonaro pede 'jogo pesado' contra Doria

Jussara Soares

Emilly Behnke

15/05/2020

 

 

A empresários, presidente fala em ‘guerra’ e defende ação para evitar lockdown em SP

Divergência. Doria em inauguração de hospital em São Bernardo do Campo; governador e presidente tiveram novo embate

O presidente Jair Bolsonaro pediu ontem para empresários “jogarem pesado” com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para evitar o lockdown – fechamento total de todas as atividades – no Estado como medida de combate ao novo coronavírus. Em videoconferência promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Bolsonaro disse que há “uma guerra” e uma motivação política de tentar quebrar a economia para atingir o seu governo.

“Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, o futuro da economia do Brasil. Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra. É o Brasil que está em jogo. Se continuar o empobrecimento da população, daqui a poucos seremos iguais na miséria”, afirmou Bolsonaro. “O que parece que está acontecendo parece uma questão política, tentando quebrar a economia para atingir o governo.”

O governador de São Paulo reagiu às declarações e disse que Bolsonaro “despreza vidas”. O presidente defende o fim do distanciamento social, contrariando recomendações de autoridades de Saúde.

Ontem, Bolsonaro voltou a criticar as medidas de isolamento social defendidas por Doria, um dos seus principais adversários políticos. Epicentro da pandemia do novo coronavírus, São Paulo tem 54.286 casos confirmados de covid-19 e 4.315 mortes. No Brasil, são 188.974 casos, com 13.149 óbitos.

Como mostrou ontem a Coluna do Estadão, empresários já haviam cobrado de Doria, na véspera, um “plano de saída” do isolamento. O governador falou em uma estratégia a ser elaborada para evitar recaídas, mas não definiu prazo para o fim da quarentena no Estado.

Pouco antes da fala de Bolsonaro, o secretário especial de Comunicação Social da Presidência, Fábio Wajngarten, pediu aos empresários que façam uma “campanha” contra o lockdown. “Pressionem os governadores, pressionem os governos a quem de direito. A Presidência da República está com vocês. O presidente Bolsonaro trabalha para vocês. O governo trabalha para vocês, a Presidência, aqui em Brasília. Pressionem a quem de direito, por favor”, disse o secretário. Para Wajngarten, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, deve liderar esse movimento antiquarentena.

‘Desobediência civil’. Bolsonaro defendeu a abertura rápida do mercado e providências imediatas para evitar consequências como possibilidade de “caos”, “saques” e “desobediência civil”. Segundo o presidente, neste caso, não adiantaria nem convocar as Forças Armadas porque não haveria militares suficientes para atuar em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

“Lá na frente, eu tenho falado até com o ministro Fernando (Azevedo e Silva), da Defesa, os problemas vão começar a acontecer, de caos, saques de supermercado, desobediência civil. Não adianta querer convocar as Forças Armadas que não vamos ter gente para tanta GLO. Não existe gente para tanta GLO. E o povo vai estar na rua, em grande parte, por estar passando fome. E homem com fome não tem razão, ele perde a razão”, disse o presidente.

Bolsonaro citou ainda o decreto no qual incluiu academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais. “Tem governador falando que não vai cumprir. Eles estão partindo para a desobediência civil. Se alguém não concorda com um decreto meu tem dois caminhos: um projeto de decreto legislativo no Congresso, para tornar sem efeito o meu decreto, ou ação na Justiça, e não ‘não vão cumprir’”, declarou.

Como mostrou o Estadão, a maioria dos governadores vai ignorar o decreto do presidente. Levantamento feito pela reportagem aponta que pelo menos 18 governadores, metade deles na Região Nordeste, optaram por não aderir à decisão e continuar seguindo diretrizes estabelecidas pelas secretarias estaduais de paralisação.

‘Guerra’

“Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador (João Doria) e jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra. É o Brasil que está em jogo.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA