Título: Estratificação social
Autor: Maia, Flavia
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2012, Cidades, p. 21

Os números baseados em renda por pessoa ou por domicílio que colocam o Distrito Federal com índices de primeiro mundo também escondem a realidade de boa parte de quem vive no quadrilátero. Isso sem contar o cinturão de pobreza que circunda o DF e não é contabilizado nas estatísticas oficiais da capital do país. “Em 52 anos, construímos a sociedade mais desigual do Brasil. Mesmo sendo uma região jovem, o DF não aprendeu com a experiência de outros locais”, analisa Júlio Miragaya, presidente da Codeplan.

Dessa forma, o índice de Gini do DF, que mede a desigualdade entre ricos e pobres, é o mais alto do Brasil. Na capital, ele marca 0,622, sendo que a média nacional é de 0,575. Santa Catarina, o estado com o melhor coeficiente do país, apresenta 0,488. “O que adianta ter renda per capita elevada e serviços públicos que não funcionam? Pagamos impostos altos, mas os nossos hospitais públicos, por exemplo, são horríveis. E o dinheiro que arrecada? Como diminuir essa diferença entre ricos e pobres?”, questiona Newton Marques, da UnB.

A diferença entre a cidade com famílias de menor renda domiciliar e a com mais alta renda no DF é de 16 vezes, segundo os últimos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios. Enquanto uma família do Lago Sul vive com a média de 34 salários mínimos, na Estrutural, o indicador é de 2,32. “Temos a Suíça e a África no mesmo território, isso não é natural”, afirma Newton.

O especialista do Ibmec César Frade defende que, por mais que haja estratificação social no DF, a renda ainda é mais uniforme do que em outras regiões brasileiras. “A economia do DF é sustentada por assalariados. Não há um grupo de empresários muito ricos, como ocorre em estados como São Paulo. O mais rico de São Paulo é muito mais rico do que o do DF, assim como o mais pobre paulista é bem mais pobre do que o brasiliense”, acredita. (FM)

Rendimentos Criado pelo matemático italiano Conrado Gini, o indicador aponta o grau de concentração de renda em determinado grupo e a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, vai até 1, sendo que zero representa a situação de igualdade na qual todos têm a mesma renda. Na prática, o índice costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.