O Estado de São Paulo, n.46231, 15/05/2020. Economia, p.B4
Bolsonaro recua e quer discutir veto
Mateus Vargas
15/05/2020
Presidente prometeu a Guedes que vetaria chance de reajuste salarial de servidores, mas agora terá debate com Maia e governadores
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que pretende discutir com governadores e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) o veto a trecho do projeto de auxílio a Estados e municípios que trata de congelar o reajuste de servidores públicos até 2021.
Bolsonaro disse que “talvez” o encontro virtual com os governadores ocorra na semana que vem. A ideia da reunião, segundo ele, é de Maia. “Ele pretende, juntamente comigo, fazer videoconferência com governadores de todo o Brasil e ali sair compromisso no tocante a possível veto ou não de artigos desse projeto”, afirmou.
Bolsonaro e Maia se encontraram ontem, após meses de afastamento e trocas de farpas em público. Depois da reunião, Bolsonaro disse que não há “ataques” e eles estão em “paz e harmonia”. Horas, antes, no entanto, a empresários, sem citar o nome de Maia, Bolsonaro disse que o presidente da Câmara “parece que quer afundar a economia para ferrar o governo para talvez tirar proveito político lá na frente”, disse. “A tendência é a gente afundar mesmo”.
A proibição de reajustes para os servidores nos próximos 18 meses é a contrapartida exigida pelo governo federal para a transferência de R$ 60 bilhões a Estados e municípios.
No entanto, como mostrou o Estadão, com o aval de Bolsonaro, deputados e senadores colocaram uma série de categorias blindadas do congelamento, incluindo as de segurança. Com as mudanças, a previsão de economia com a medida caiu de R$ 130 bilhões para R$ 43 bilhões.
No projeto, foram poupados do congelamento servidores da área de saúde (como médicos e enfermeiros), policiais militares, bombeiros, guardas municipais, policiais federais, policiais rodoviários federais, trabalhadores de limpeza urbana, de assistência social, agentes socioeducativos, técnicos e peritos criminais, professores da rede pública federal, estadual e municipal, além de integrantes das Forças Armadas.
Depois da mudança no texto do descontentamento da equipe econômica, Bolsonaro passou a dizer que vetaria o dispositivo para poupou as carreiras do congelamento. Na segunda-feira, ele disse que decidiria até ontem a respeito do veto e atenderia 100% o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ontem, porém, mudou o discurso.
Língua. Bolsonaro disse que fala “a mesma língua” de Maia neste tema. "Está todo muito preocupado com a questão de gastos. Quase todos prefeitos e governadores estão no limite sobre a questão de gastos", disse.
Questionado se vai buscar um compromisso de que governadores e prefeitos não façam reajustes, Bolsonaro disse que a ideia de Maia é buscar esse entendimento. “Eu, ele (Maia), conversando com os governadores, eu e ele, lado a lado, Paulo Guedes, logicamente, na linha de frente e buscar uma solução para isso aí”, afirmou.
Bolsonaro tem até o dia 27 de maio para sancionar o socorro aos Estados e municípios, com o veto à possibilidade de aumento salarial para o funcionalismo. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o presidente segura os vetos para permitir reajustes a algumas categorias, como as polícias civil e militar do Distrito Federal, cuja autorização para o aumento foi aprovada na quarta-feira, 13, pelo Congresso. O custo estimado é de R$ 505 milhões por ano. O texto agora depende da sanção do presidente.
Pela manhã, ao falar com os jornalistas, o presidente usava uma máscara da Polícia Militar do Distrito Federal. Ao lado dele, também com máscara da PM do DF, estava o titular da Secretaria-Geral, ministro Jorge Oliveira, que é da reserva da PM do DF e também será beneficiado com o aumento para a carreira.
À noite, Bolsonaro voltou a defender a reabertura do comércio e retorno de atividades nos Estados. O presidente disse que irá “trocar impressões” com Maia e governadores sobre “começar a abrir o comércio”. “Começam a falar que vírus não vai embora daqui a um ou dois meses. Pode durar mais de um ano”, disse. “Nossa economia está no limite. Com desemprego, pessoal em casa começa a faltar tudo”, completou.
O presidente alertou que o governo federal não tem condições seguir pagando o auxílio emergencial de R$ 600 após a terceira parcela. Bolsonaro disse ainda que, se a quarentena não for encerrada, inflação e juros devem subir no futuro.
Segundo Bolsonaro, a reabertura “sempre” está na pauta do ministro da Saúde, Nelson Teich. “(Ele) entende que tem de buscar uma saída para que voltemos a trabalhar. Não é só o povo quer trabalhar, o Brasil precisa”, disse.
Agora é possível veto
“Ele (Rodrigo Maia) pretende, juntamente comigo, fazer videoconferência com governadores de todo o Brasil e ali sair compromisso no tocante a possível veto ou não de artigos desse projeto.”
Jair Bolsonaro
PRESIDENTE