Correio braziliense, n. 20854 , 27/06/2020. Política, p.2

 

Sem doutorado, ministro admite importância de cotas

Maíra Nunes

27/06/2020

 

 

Com apenas um dia no cargo, o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, já teve o nome envolvido em controvérsia. O reitor da Universidade Nacional de Rosario, na Argentina, Franco Bartolacci, afirmou, ontem, que o novo integrante do governo não obteve o título de doutor na instituição, como apareceu no currículo lattes dele e como foi anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro.

“Vemo-nos na necessidade de esclarecer que Carlos Alberto Decotelli da Silva não obteve, na Universidade Nacional de Rosario, o título de doutor que se menciona nesta comunicação”, declarou Bartolacci. Ele relacionou o tuíte de Bolsonaro, que dizia: “Decotelli é bacharel em ciências econômicas pela UERJ, mestre pela FGV, doutor pela Universidade de Rosario, Argentina, e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”.

O Ministério da Educação informou, por meio de nota, que “o ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva concluiu, em fevereiro de 2009, todos os créditos do doutorado em administração pela Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística da Universidade Nacional de Rosario, na Argentina”. A pasta, inclusive, compartilhou o diploma. Mas Bartolacci esclareceu que o ministro não teve a tese aprovada. Portanto, não é doutor.

Mesmo sem Decotelli concluir o último quesito para conseguir o doutorado, o título aparecia no currículo dele na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Após a repercussão, o ministro alterou o documento, colocando a ressalva de que concluiu todos os créditos do doutorado em administração. O MEC não se manifestou sobre a informação, também constante do currículo de Decotelli, do pós-doutorado, o que só é possível se obtido o doutorado.

Antes da polêmica, em entrevista à Rádio Bandeirantes, Decotelli afirmou que as cotas sociais são uma forma de permitir mais acesso à educação. “Não podemos exigir resultados iguais para aqueles que não têm igualdade no acesso”, disse, sem, no entanto, defender abertamente o mecanismo. “Cotas dependerão sempre de reflexão de toda a sociedade.”

O ministro afirmou, também que, após “mais de 300 anos com esse conceito de escravocrata, ainda tempos muitas contaminações de metodologias, subjetividades”. “Nunca sofri o racismo de tomar tiros nas costas, mas, sim, de perceber olhares, de eugenia de ambientação, ou seja, criar um ambiente que não seja para negros.”