Correio braziliense, n. 20854 , 27/06/2020. Política, p.4

 

Blitz na Lava-Jato provoca demissões

Renato Souza

27/06/2020

 

 

MINISTÉRIO PÚBLICO » Integrantes da força-tarefa em Brasília pedem saída do cargo após subprocuradora-geral ir a Curitiba para acessar dados da investigação. Caso vai parar na Corregedoria do MP

Procuradores da força-tarefa da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) pediram demissão, ontem, por discordarem da gestão do chefe do órgão, Augusto Aras. O estopim foi uma visita surpresa da subprocuradora-geral Lindora Araújo à sede do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR), na quarta e quinta-feiras. De acordo com informações obtidas pelo Correio, deixaram os cargos os procuradores Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas de Macedo e Victor Riccely. No entanto, outros nomes podem deixar a função, pelo mesmo motivo.

Braço direito de Aras, Lindora foi ao MPF-PR solicitar acesso a gravações e documentos referentes à operação que desarticulou um esquema de corrupção na Petrobras. Ela foi nomeada em janeiro, pelo PGR, chefe da Lava-Jato nos processos do Supremo Tribunal Federal (STF). Após a visita, os 14 procuradores da força-tarefa enviaram um documento a Aras e à Corregedoria-Geral do Ministério Público. No ofício, eles comunicam os fatos e o estranhamento gerado na “busca informal”. Procuradores avaliaram que a investida seria uma tentativa de prejudicar o ex-juiz Sergio Moro, que foi, durante quatro anos, o principal nome da operação.

Procurada pela reportagem, a PGR esclareceu que “desde o início das investigações, há um intercâmbio de informações entre a PGR e as forças-tarefas nos estados, que atuam de forma colaborativa e com base no diálogo”. Ainda de acordo com o órgão, “processos que tramitam na Justiça Federal do Paraná têm relação com processos que tramitam no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça), e a subprocuradora-geral Lindora Araújo é responsável pela interlocução entre as diferentes equipes da Lava Jato”.

Agendamento

Já em nota, a PGR informou, também, que o procedimento já estava marcado e se tratou de uma reunião de trabalho. “A visita foi previamente agendada, há cerca de um mês, com o coordenador da força-tarefa de Curitiba que, inclusive, solicitou que se esperasse seu retorno das férias, o que foi feito”, destacou o texto. “O procurador Deltan Dallagnol sugeriu que a reunião fosse marcada para entre 15 e 19 de junho, mas acabou ocorrendo nessa quarta-feira e quinta-feira.”

Ainda conforme a nota, “não houve inspeção, mas uma visita de trabalho que visava a obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações e o acervo da força-tarefa, para solucionar eventuais passivos”. “Um dos papéis dos órgãos superiores do Ministério Público Federal (MPF) é o de organizar as forças de trabalho. Não se buscou compartilhamento informal de dados, como aventado nas notícias da imprensa, mas compartilhamento formal com acompanhamento de um funcionário da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise (Sppea), órgão vinculado à PGR, conforme ajustado previamente com a equipe da força-tarefa em Curitiba”, emenda o textou.

A Lava-Jato, por sua vez, dá uma informação diferente. Segundo os procuradores, Lindora comunicou a visita por telefone, no dia anterior. “Não foi formalizado nenhum ofício solicitando informações ou diligências, ou informado procedimento correlato, ou mesmo o propósito e o objeto do encontro”, consta no documento.

Com a subprocuradora, estavam o secretário de Segurança Institucional, Marcos Ferreira dos Santos, que é delegado de Polícia Federal, e o procurador da República Galtienio da Cruz Paulino, do gabinete de Aras. (Com Agência Estado)

“Trabalho acumulado”

A chefe da Lava-Jato na PGR teria informado que a equipe tinha dois trabalhos a fazer em Curitiba: examinar o acervo da força-tarefa e consultar dados da área de tecnologia. O motivo seria suposta preocupação com o “volume de trabalho pendente acumulado”. Integrantes da força-tarefa viram a ação como inusitada e temem um risco para os dados das investigações. Um dos receios é que a PGR peça a transferência de dados sigilosos.

Frase

“Processos que tramitam na Justiça Federal do Paraná têm relação com processos que tramitam no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça), e a subprocuradora-geral Lindora Araújo é responsável pela interlocução entre as diferentes equipes da Lava Jato”

Esclarecimento da PGR