Correio braziliense, n. 20854 , 27/06/2020. Cidades, p.15

 

GDF libera atividades em clubes e times de futebol

Mariana Machado

Mariana Niederauer

27/06/2020

 

 

CORONA VÍRUS » Mesmo com aumento de casos e várias restrições, como proibição do uso de piscinas e churrasqueiras, governador autoriza retomada de parte dos espaços de lazer e retorno de treinamentos profissionais. Sem data, restaurantes, academias e salões preparam-se para reabrir

O governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou ontem a reabertura de clubes recreativos e a retomada de treinamentos pelos times de futebol profissional do Distrito Federal. Mesmo com a maior alta de casos em 24 horas (leia reportagem ao lado), o Decreto nº 40.923 permite que os times voltem a treinar em meio à pandemia de coronavírus desde que atletas e demais profissionais sejam submetidos a exames de covid-19. No caso dos clubes de lazer, além das medidas de higiene, estão proibidos esportes coletivos, utilização de áreas coletivas, como piscinas, churrasqueiras, academias, saunas e afins, e o uso de espaços para a realização de piqueniques ou outras atividades que gerem aglomeração (veja Normas).

Segundo o novo decreto, para os times de futebol profissional, os testes que detectam a presença do vírus devem ser repetidos semanalmente, e os treinos só poderão envolver atividades físicas individuais. Distância mínima de dois metros entre atletas e equipe técnica precisa ser respeitada, além do uso obrigatório de máscara. Outras recomendações básicas de combate à covid-19 também são destacadas na norma do GDF, como a proteção aos grupos de risco. Profissionais com mais de 60 anos ou portadores de doenças crônicas não devem participar dos treinamentos. Médicos, fisioterapeutas e demais profissionais de saúde deverão sempre usar equipamentos de proteção individual durante as atividades com os atletas.

Além disso, cada clube precisará manter um registro de casos suspeitos, testes realizados e diagnósticos confirmados com análise periódica das informações. A Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) e a Secretaria de Esporte e Lazer ficarão responsáveis por fiscalizar o cumprimento das medidas de prevenção ao contágio pelo coronavírus nos treinos realizados pelos clubes no DF.

 Alimentação e beleza

Sem perspectiva de quando poderão reabrir as portas, donos dos estabelecimentos que seguem fechados estão apreensivos. Como medida de prevenção à transmissão do coronavírus, são três meses sem atendimento presencial. O governador Ibaneis Rocha chegou a anunciar duas datas possíveis para bares e restaurantes: 25 de junho ou 1º de julho. No mesmo dia, também era esperada a volta de salões de beleza.

Contudo, a 3ª Vara Federal Cível barrou a decisão, acatando pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ibaneis entrou com recurso e foi atendido pelo Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1). Agora, o governo estuda uma nova previsão para o retorno desses estabelecimentos. Em nota, a Subsecretaria de Relações com a Imprensa do Governo do Distrito Federal (GDF) informou que não há definição de datas nem estão decididas as regras e protocolos de funcionamento ou de fiscalização. "Tão logo sejam definidos serão amplamente divulgados."

A empresária Alba Lúcia Amaral, dona do Café e um Chêro, acredita que a volta das atividades demorará. "Não deve acontecer na semana que vem, como temos ouvido", lamenta. Mesmo após a autorização, ela vai aguardar para receber os clientes presencialmente. "Eu tiro por mim. Fico meio cabreira com essa situação toda. Saio na rua porque preciso, mas, em shopping, por exemplo, não quero ir tão cedo. Acho que as pessoas vão ficar meio com pé atrás também."

Mesmo assim, Alba prepara-se para as possíveis normas que serão implementadas. "A gente tem de procurar termômetro para os clientes, dispensador de álcool em gel especial e manter as mesas afastadas. Serão muitas exigências, mas espero que tenham nexo, e não sejam impossíveis", afirma. Até lá, o café funciona por delivery, o que tem mantido a empresa funcionando. "Tomara que a gente tenha condições de saúde no Brasil para a reabertura", diz.

Enquanto isso, trabalhadores de salões de beleza estão ansiosos pelo retorno. O sindicato dos salões, institutos e centros de beleza, estética e profissionais autônomos do DF (Simbeleza) estima mais de 20 mil estabelecimentos deixaram de atender aos clientes. "O nosso setor fatura cerca de R$ 400 milhões por mês. É muito dinheiro, e famílias que dependem disso. Se o governador não abrir, será a sacramentação do caos", avalia o presidente do Simbeleza, Célio Paiva.

Para o diretor executivo da rede Hélio Diff, Gustavo Nakanishi, o período tem sido de experiência e reflexão. A empresa existe há 41 anos e tem 12 unidades no DF, mas esta é a primeira crise de grandes proporções. "A pandemia trouxe, para todos, uma visão de necessidade de mudança. Se existe um ponto positivo em toda a situação, é esse olhar da transformação", ressalta. De olho na volta, Gustavo providenciou kits descartáveis, que serão oferecidos a clientes e funcionários. Cada um terá máscaras, face shields e aventais. "O nosso grande objetivo é mostrar o quanto o salão é seguro. Só vamos atender a uma cliente por hora, mantendo espaçamento de 2 metros e reduzimos a jornada de trabalho das equipes", detalha.

Academias

Embora os parques estejam abertos para quem quer fazer atividade física, muitos sentem falta dos treinos em academias. Manter os estabelecimentos não tem sido fácil, sem os clientes. O aluguel de equipamentos como halteres, colchonetes e bicicletas ajuda, mas não é o suficiente, como explica Diego Rodrigues, proprietário da Espaço 16, na Asa Sul. "O nosso público é fiel. Muitos continuam pagando mensalidade, mesmo sem estarem comparecendo, porque vamos jogar esses meses para a frente. Mas muitos estão cancelando, não tem muito o que fazer", revela.

Sócio de Diego, Oscar Aranha entende que é possível segurar as contas mais um pouco, mas, sem reabrir, o risco de encerrar as atividades é grande. Para receber novamente os alunos, a academia reorganiza o espaço, reduzindo o número de esteiras pela metade, assim como as bicicletas para aula de spinning. Serão disponibilizados álcool em gel e toalhas descartáveis. Na recepção, todos terão a temperatura corporal medida e quem estiver com 37 ºC ou mais, não entrará. "A primeira semana será a mais difícil, porque é de adaptação. Vamos precisar conversar com os alunos para organizar os horários, especialmente pela manhã e no início da noite, momentos, normalmente, de pico", afirma.

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Farid Buitrago, reabrir esses setores é um equívoco. "Precisamos diminuir a pressão em cima do sistema de saúde. A curva está crescente tanto de casos quanto de óbitos", destaca. "Com a abertura, aumenta-se o risco de contaminação. Sabemos que o vírus é transmitido por gotículas. Em restaurantes, as pessoas retiram as máscaras para comer e conversar; nas academias, para se exercitar", alerta.

O médico reforça que, se há aumento de infectados, consequentemente, cresce a quantidade de casos graves, com necessidade de internação. "A pessoa que vai para unidade de terapia intensiva (UTI) fica lá por, no mínimo, 10 dias. Ocupa o leito durante um bom tempo, e temos limitação de atendimento", calcula. "O momento certo para reabrir é quando as taxas de contaminações e de óbitos estiverem estabilizadas ou decrescentes, e Brasília ainda não demonstrou isso."

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Mais 2.445 novos casos

Walder Galvão

27/06/2020

 

 

A curva de contaminação por coronavírus continua em crescimento no Distrito Federal. A capital registrou a maior quantidade de confirmações em 24 horas. Ontem, 2.455 pessoas testaram positivo para a covid-19, e o total de diagnosticados ultrapassou 40 mil. Além disso, a Secretaria de Saúde contabiliza 23 mortes provocadas pela doença. Agora, o número de infectados saltou para 41.326, e o de óbitos, para 485.

Apenas nesta semana, entre domingo e ontem, a Secretaria de Saúde registrou a morte de 115 moradores da capital. A pasta também contabiliza o óbito de 47 pessoas que viviam em outras unidades da Federação, mas faleceram em hospitais da cidade. Dessas, 12 morreram no período. Em relação aos diagnósticos, foram 9.088 novos casos.

Das mortes registradas ontem, todos os pacientes tinham mais de 30 anos e dois não apresentavam comorbidades — doenças que agravam os sintomas da covid-19. As regiões administrativas que mais tiveram mortes são: Ceilândia (3), Plano Piloto (3) e Taguatinga (3). Apesar disso, 27.677 pacientes estão recuperados; portanto, 13.117 casos são considerados ativos. Desses, 38 estão em estado grave e 78, moderado.

Ceilândia continua como a cidade da capital com mais diagnosticados e mortos pela doença. Segundo levantamento da Secretaria de Saúde, há 5.701 infectados e 110 óbitos. Em seguida, em relação ao número de casos, aparecem Plano Piloto (2.998) e Taguatinga (2.961). As regiões administrativas de menor incidência da doença são o Setor de Indústria de Abastecimento (SIA) (21), Fercal (21) e Varjão (47).

 Linha de frente

Monitoramento da Secretaria de Saúde mostra que, entre 1º de junho e ontem, o número de profissionais da saúde infectados mais do que dobrou. No período, houve aumento de 165% do total de diagnosticados. Segundo o levantamento da pasta, a quantidade de profissionais da saúde diagnosticados subiu de 752 para 1.995. Desses, cinco morreram devido ao coronavírus. Na área da segurança, também houve crescimento de infectados. Neste mês, 224 servidores testaram positivo para a covid-19, passando de 360 para 584, alta de 62%. A área tem quatro mortes.

 Normas

Confira algumas regras que clubes recreativos e times de futebol terão de seguir: 

Todos os atletas e demais profissionais dos clubes devem ser submetidos a exames de covid-19; a repetição dos testes deverá ser feita semanalmente

Os treinos só deverão envolver atividades físicas individuais os profissionais com mais de 60 anos ou portadores de doenças crônicas não devem participar dos treinamentos

Isolamento de 14 dias para casos suspeitos e confirmados da doença, além de monitoramento e testagem das pessoas que tiveram contato próximo com o paciente

Cada clube deverá manter registros de casos suspeitos, testes realizados e diagnósticos confirmados, com análise periódica das informações Proibida a presença de público durante o treinamento

Utilização de equipamentos de proteção individual por todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço

Disponibilização de álcool em gel 70% a todos os clientes e frequentadores

Manutenção dos banheiros e demais locais do estabelecimento higienizados e com suprimentos suficientes

Utilização obrigatória de máscaras de proteção facial Aferição da temperatura dos frequentadores

Frequente higienização de mesas e cadeiras de uso coletivo, que devem ser dispostas a uma distância de dois metros umas das outras

Necessária a manutenção do distanciamento mínimo de 2 metros entre as pessoas

Proibida a prática de quaisquer esportes coletivos, bem como a utilização de áreas coletivas, como piscinas, churrasqueiras, academias, saunas e afins Vedada a utilização de espaços para a realização de piqueniques ou outras atividades que gerem aglomeração

Proibido o funcionamento de bares e restaurantes, exceto para venda e consumo de bebida não alcoólica Proibido o funcionamento de bebedouros