Título: Muitos nós a desatar em 2013
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 27/12/2012, Economia, p. 11

Dilma tem vários desafios para que os investimentos sejam retomados e a economia, destravada. Especialistas temem uma inflação no teto

A equipe econômica está dando os últimos retoques nas projeções econômicas para 2013, mas já concluiu que a presidente Dilma Rousseff deve se frustrar ao pedir, como presente de ano-novo, “um Pibão grandão”. Os indicadores apontam para um avanço máximo de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas é muito provável que o crescimento fique mais próximo de 3%. A avaliação é de que o governo não conseguirá desatar, na velocidade esperada, os nós que hoje travam a atividade, sobretudo os que inibem os investimentos. Nem mesmo os gastos públicos para incrementar a infraestrutura do país devem decolar, tamanha a ineficiência de ministérios cruciais, como o de Transportes e o de Minas e Energia.

Na avaliação de especialistas, tudo indica que o ano de 2013 continuará combinando um quadro desolador, de baixo crescimento econômico e inflação muito acima do centro da meta — de 4,5% — perseguida pelo Banco Central. Os mais pessimistas, como Carlos Kawall, do Banco J. Safra, acreditam em PIB com incremento inferior a 3% e inflação próxima de 6%, quase o teto (6,5%) definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A recuperação — com expansão entre 4% e 4,5%, projetada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega — não deverá se confirmar nem em 2014.

O economista-chefe da Planner Corretora, Eduardo Velho, é tachativo: “Se, em 2013, alcançarmos crescimento de, pelo menos, 3%, já estará ótimo”. Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, há o risco de 2013 engrossar essa lista se o governo não retomar a confiança do empresariado. “Sem confiança, não há investimentos produtivos. E, sem investimentos, não há como falar em crescimento forte da economia”, afirmou.

“Brincando com o fogo” A reversão do clima de intervencionismo é um ponto crucial para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. E, embora admita que 2013 começa num clima mais positivo, ele pede cautela com relação à inflação. “Não adianta fazer o país crescer se o preço para isso for mais inflação. O governo está brincando com o fogo ao enfraquecer a política monetária e ao manter o câmbio mais depreciado para favorecer a indústria”, ressaltou.

No entender de Gonçalves, será bom o governo criar uma pauta para assuntos indigestos, como inflação, impostos, gastos com pessoal e câmbio, e corrigir as distorções que atravancam a economia. “Nessa agenda, não podem faltar ainda temas espinhosos, como as reformas do trabalho, da Previdência Social, tributária e política”, complementou Velho. Para o economista da Planer, seria de bom tom o governo manter alguma coerência na condução das políticas monetária, fiscal e cambial. “Nunca é demais reafirmar que o câmbio é flutuante, que a taxa de juros resulta de uma decisão técnica e que o rigor fiscal ajuda a manter a inflação sob controle”, disse.

» Obstáculos

Apesar de todo o otimismo do governo, não será fácil a vida no próximo ano

» Crescimento econômico — Nos últimos dois anos, o Ministério da Fazenda anunciou uma série de medidas para estimular a atividade. Mas com foco voltado apenas ao consumo, a expansão média do PIB nos dois primeiros anos da administração Dilma será de 1,85%, o pior resultado desde a era Collor de Mello (1991 e 1992).

» Destravar a infraestrutura — Ao mesmo tempo em que intimida o empresariado, ao adotar uma postura intervencionista, o governo não consegue executar os investimentos necessários para melhorar estradas, portos, rodovias e ferrovias, cujas deficiências tiram quase R$ 100 bilhões por ano do caixa das empresas e minam a competitividade do país. » Elevar a produtividade — Para produzir o mesmo que um trabalhador norte-americano, as empresas instaladas no país precisam de cinco brasileiros. Motivo: o baixo nível de qualificação, devido a dezenas de anos de descaso com a educação. Mesmo sendo pouco produtiva, a mão de obra nacional é caríssima.

» Avançar nas reformas estruturais — Infelizmente, nos últimos anos, pouco se avançou nos projetos de reforma da Previdência Social, tributária e trabalhista. Da forma como está a legislação hoje, o custo Brasil é insustentável. Com a crise atual da economia, o governo já sinalizou que pouco fará para melhorar o ambiente de negócios no país.

» Inflação e ajuste fiscal — O governo está insistindo, há dois anos, em manter a inflação muito distante do centro da meta, de 4,5%. O capital está preocupado porque, também em 2013 e 2014, os índices de preços ficarão além do objetivo perseguido pelo Banco Central. Para piorar, a meta cheia de superavit primário, de 3,1% do PIB, não deverá ser cumprida. Mais gastos do governo estimulam reajustes.