Título: Morsy pede diálogo
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Fonte: Correio Braziliense, 27/12/2012, Mundo, p. 16
Depois de promulgar a nova Constituição egípcia, o presidente diz que o texto "é fruto da vontade do povo", promete mudanças econômicas e convoca oposição para o consenso. O parlamento prepara eleições legislativas
No primeiro dia de vigência da nova Constituição do Egito, o presidente Mohamed Morsy convocou todas as forças políticas para o diálogo, anunciou uma reforma no gabinete de governo e prometeu medidas em prol do crescimento do país, que viu as tensões agravadas por uma crise na economia. O parlamento também começou os trabalhos para uma legislação sobre as próximas eleições, que devem ocorrer em dois meses. A Shura, ou Câmara Alta, deve votar ainda projetos de lei que disciplinam os protestos nas ruas do país e regulam a mídia.
“O Egito tem uma nova Constituição que resultou da livre manifestação da vontade do povo”, disse Morsy em discurso transmitido pela TV estatal egípcia. Em tom conciliador, ele convocou a oposição ao diálogo “para resolver as persistentes tensões”. Ele falou à Nação após o início da primeira seção da Shura, cujos membros, de maioria islâmica, foram nomeados pelo presidente, depois da entrada em vigor da nova Carta. A Shura ganhou novos poderes com a Constituição e vai funcionar até que sejam promovidas novas eleições para escolha dos integrantes da Câmara Baixa, dentro de dois meses.
Morsy afirmou que tem tratado sobre reformas no governo com o primeiro-ministro Hisham Qandil “para fazer as remodelações ministeriais necessárias”. Segundo o site de notícias Ahram Online, a declaração diminui rumores de que a Irmandade Muçulmana nomearia Khairat El-Shater, segundo na hierarquia da instituição religiosa, para o posto de Qandil.
A oposição também se manifestou ontem e prometeu continuar a luta contra o texto da Carta Magna, “redigida pela Irmandade Muçulmana e aprovada sem representação”, segundo declarou o porta-voz da Frente Nacional de Salvação (FNS), Hussein Abdel-Ghani.
Em relação à economia, Morsy demonstrou vontade política em resolver a crise que agrava as tensões políticas internas. “Vou empenhar todos os meus esforços para apoiar a economia egípcia, que enfrenta enormes desafios, mas que também possui grandes oportunidades de crescimento”, disse em seu discurso. O presidente prometeu transformar o Egito em um país atrativo aos investimentos internacionais. As finanças públicas do país enfrentam sérios problemas. O Egito enfrenta há quase dois anos uma forte queda nas receitas do turismo e um colapso nos investimentos estrangeiros. A crise política provocou o adiamento de uma decisão muito aguardada do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um empréstimo de US$ 4,8 bilhões.
Ontem, a França demonstrou preocupação com as “fortes tensões no Egito, por grandes incompreensões e por denúncias de irregularidades durante um referendo caracterizado por uma baixa taxa de participação”. O Ministério das Relações Exteriores francês divulgou um comunicado em que pede ao presidente que reestabeleça a coesão interna. "Corresponde a todos os atores políticos, e em primeiro lugar ao presidente Morsy, trabalhar para restabelecer o consenso na sociedade egípcia", completa o ministério em uma reação similar às manifestadas na terça-feira pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Lista única para eleições A Frente Nacional de Salvação (FNS) anunciou que pretende formar um comitê para coordenar os partidos de oposição ao governo de Morsy nas eleições parlamentares. Em entrevista ao site de notícias Ahram Online, o porta-voz da frente, Hussein Abdel-Ghani, disse que o grupo discute a possibilidade de formar uma lista única de candidatos para as eleições parlamentares. Abdel afirmou que “a luta contra o texto da Constituição continua por meio de protestos e na disputa eleitoral”. O principal líder da FNS, Mohamed El Baradei, ganhador do Nobel da Paz e ex-chefe da agência de energia atômica da ONU, disse que a nova Carta deve ser tratada como um texto "interino" até que outro seja escrito com base no consenso.