Título: General sírio deserta
Autor: Walker, Gabriela
Fonte: Correio Braziliense, 27/12/2012, Mundo, p. 16

A fragilidade e a tensão do governo de Bashar al-Assad foram mais uma vez evidenciada ontem, após o chefe da polícia militar do país pedir demissão em um vídeo em que afirma que o Exército “se transformou em uma gangue de assassinos”. Na gravação, que foi postada na internet, o general Abdel Aziz Jassem al-Shallal anunciou sua saída das forças leais para fazer parte da revolução popular. “A destruição de cidades e vilarejos, os massacres contra o nosso povo, contra civis inocentes que foram às ruas para pedir liberdade, me empurraram à deserção”, declarou. O regime confirmou a saída do militar, mas tentou amenizar a importância do ato, afirmando que o general estava próximo da aposentadoria. Os governistas classificaram o vídeo como um tentativa de “bancar o herói”.

Tradicionalmente apoiado por setores nacionalistas, grupos religiosos e militares, o regime sírio sente de forma dura a desarticulação das forças aliadas. “Assad não tem um governo fantoche — não é um joguete manipulado por forças estrangeiras —, mas não se pode negar o enfraquecimento de suas bases internas”, explica o professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Vidigal. “As últimas informações assinalam para uma queda relativamente próxima do governo”, conclui ele.

Em território sírio desde domingo, o enviado internacional Lakhdar Brahimi, diplomata argelino que busca estabelecer um plano de paz entre a oposição e al-Assad, participou ontem de reuniões na capital Damasco. Brahimi já se encontrou com Assad e com líderes da oposição, mas não conseguiu avançar na direção de um possível acordo. “Não vemos nenhuma perspectiva do fim da violência ou do começo de um diálogo político”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, antes da viagem do diplomata a Damasco.

Demonstrando engajamento na causa síria, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Bogdanov, recebe Brahimi, em Moscou, no próximo fim de semana. A diplomacia russa terá, ainda, encontros com uma delegação do governo sírio e com o ministro egípcio, Mohamed Amr, quando o regime de Assad será o centro das conversas. China e Rússia, principais aliados do governo sírio no exterior já expressaram apoio para ações que promovam o fim da violência, mas não chegaram a discutir, abertamente, a queda do regime.

Em meio às discussões diplomáticas, o presidente al-Assad se mantém fiel à recusa de deixar a Síria ou de abrir mão do governo do país, porém, os opositores não aceitam nada menos do que a queda de todo o gabinete atual. Em 21 meses de conflitos, a guerra civil na Síria já matou mais de 45 mil pessoas, sendo 31.544 civis. Ontem, ao menos 58 morreram no país, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).