O globo, n. 31715, 06/06/2020. Opinião, p. 2

 

Suspeitas de corrupção no governo Witzel precisam ser esclarecidas

06/06/2020

 

 

Denúncias dão conta de que recursos destinados ao combate à Covid-19 foram desviados

Duas crises se juntam no Rio para debilitar ainda mais um estado que parece viver um coma permanente. A primeira, da pandemia, não se resume à saúde e contamina ainda as áreas econômica e social. A outra é a corrupção que degrada o governo de Wilson Witzel (PSC), ex-juiz federal catapultado à vitória pela onda pró-Bolsonaro que varreu o país em 2018. Tendo o apoio do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, passou de azarão a governador eleito com 60% dos votos, empunhando, entre outras, a bandeira do combate à corrupção.

Nestes 17 meses, Bolsonaro e filhos passaram de aliados a adversários políticos. E o sonho acalentado por Witzel de subir a rampa do Planalto foi abalroado pelo tsunami de corrupção em que o estado mergulhou. O próprio governador é investigado na Operação Placebo, da PF, que apura fraudes na saúde durante a pandemia. No último dia 26, Witzel foi alvo de mandados de busca e apreensão — expedidos pelo STJ — no Palácio Laranjeiras, onde reside.

Witzel alegou ter sido vítima de perseguição política por parte de Bolsonaro. Mas existem fatos a investigar. Em meio a uma pandemia que já matou mais de 6 mil pessoas no Rio, o estado é sacudido por denúncias de corrupção. Dois subsecretários de Saúde estão presos sob suspeita de participarem de esquemas fraudulentos para compra de respiradores. O secretário de Saúde, Edmar Santos, foi exonerado após o escândalo vir à tona. Dos sete hospitais de campanha, que deveriam estar concluídos em abril, só um foi entregue, porque o Iabas, contratado por R$ 800 milhões para montá-los, revelou-se despreparado para a missão. Mas só foi desabilitado pelo governo quarta-feira.