O globo, n. 31715, 06/06/2020. País, p. 9

 

Aliados esperam isenção de Bolsonaro no Rio

Paulo Cappellie

Thiago Prado

06/06/2020

 

 

Rodrigo Amorim e Cristiane Brasil, pré-candidatos à prefeitura da cidade pelo PSL e PTB, acreditam que presidente não apoiará Marcelo Crivella. Disputa já acirrada poderá ter aliança flameguista entre Rede e Novo

Aliados do presidente Jair  Bolsonaro no Rio têm se movimentado para que ele permaneça neutro e não apoie nenhuma candidatura na eleição deste ano para a prefeitura da capital. A expectativa desses apoiadores, como o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSLRJ) e a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), é que Bolsonaro não tome partido na disputa, mesmo diante da filiação de dois de seus filhos ao Republicanos, partido que lançará o prefeito Marcelo Crivella a campanha pela reeleição. A isenção esperada por bolsonaristas não diz respeito somente a demonstrações públicas do presidente, mas também a eventual atuação dele e dos filhos nos bastidores da candidatura de Crivella. O senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, que tiveram atuação na campanha do pai ao Palácio do Planalto, aderiram ao partido de Crivella no início do ano, seguidos pela mãe, Rogéria Bolsonaro, que pode compor a chapa do prefeito. Deputado mais votado na eleição de 2018 para a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), na esteira do bolsonarismo, Amorim passou a ser alvo de críticas internas de Carlos e do próprio presidente por ter permanecido fiel a Wilson Witzel (PSC), mesmo após o PSL ter rompido com o governador. Ele espera que Bolsonaro aposte na neutralidade. -Tenho afinidade ideológica com o Bolsonaro e sou muito amigo do senador Flávio Bolsonaro. Acho que, por coerência com o que fez na última eleição, o Bolsonaro não vai apoiar ninguém no Rio, permanecendo na neutralidade -diz Amorim.

 O parlamentar, no entanto, pondera que a ida de membros da família presidencial para o partido de Crivella evidencia um afastamento de sua trajetória em relação aos aliados. -0 Flávio optou por se filiar ao Republicanos, partido do Crivella, então isso mostra que o meu projeto político está separado do da família Bolsonaro -completa.

 Na última terça-feira, em Brasília, Bolsonaro deu declarações que podem vir a atender os anseios de seus apoiadores fluminenses, caso se tornem realidade antes do pleito. Ele disse que não pretende “apoiar prefeito em lugar algum” e que o trabalho no governo o impediria de ter disponibilidade para se envolver nas disputas locais.

 Filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, que integra a base do governo federal, Cristiane Brasil reforça a expectativa utilizando por neutralidade utilizando o nome do partido.

 -Como no Rio haverá dois candidatos que apoiam o Bolsonaro, Crivella e eu, o presidente vai fic ar neutro na eleição municipal. E isso o que eu, o que o PTB, espera -diz Cristiane.

 Segundo ela, a aproximação do prefeito Crivella com Bolsonaro não se refletirá em apoio durante a eleição porque ambos são “muito diferentes no espectro político”: O eleitor do Bolsonaro não tem identificação com o eleitor do Crivella. O Crivella nunca foi de direita, foi ministro da Dilma (Rousseff).

 CHAPA RUBRO-NEGRA

Em outra face da disputa no Rio, o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello está tentando fazer o ex-CEO do clube Fred Luz desistir de concorrer à prefeitura. Ambos são pré-candidatos, respectivamente, pela Rede e o Novo.

Bandeira de Mello já conversou com João Amoêdo, candidato do Novo ao Planalto em 2018, que liberou as negociações no estado. As conversas com Luz também já vêm ocorrendo, embora o pré-candidato do Novo ainda não tenha cedido ao convite de compor uma chapa.

Seria a primeira vez que Rede e Novo caminhariam juntos no Brasil. Os dois partidos foram criados nesta década na esteira da crescente rejeição a classe política, mas atuaram ao longo dos últimos anos em espectros políticos diferentes. Enquanto o Novo escolheu o caminho do discurso liberal, a Rede, embora não seja considerada ligada à esquerda, sempre teve discurso mais social personificado na figura de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.

 O tema futebol e Flamengo movimentou a política do Rio essa semana. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), pré-candidato ao cargo mais uma vez, tratou de deixar correr solta nas redes a especulação de que o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, poderia ser o seu vice na chapa. Paes disse que Braz “é um nome maravilhoso, mas não tem nada definido”.