O globo, n. 31715, 06/06/2020. Mundo, p. 22

 

Trump critica política brasileira de combate à pandemia

Marina Gonçalves

06/06/2020

 

 

Presidente dos EUA diz que governo vive se referindo à Suécia: “Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido até 2 milhões ou mais”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, citou ontem o Brasil como exemplo de país com dificuldades para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Trump alfinetou o Brasil, alegando que o país “vive se referindo” à Suécia, que não impôs quarentenas e decidiu se basear principalmente em medidas voluntárias de distanciamento social e higiene pessoal. No Brasil, O governo federal não adotou medidas de isolamento social, mas governos estaduais e municipais implantaram quarentenas em diversos níveis. Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por grandes dificuldades. A propósito, eles vivem citando o exemplo da Suécia.

A Suécia está passando por um momento terrível. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido 1 milhão, 1 milhão e meio, talvez até 2 milhões ou mais de vidas disse Trump. O número de mortes na Suécia, que tem cerca de 10 milhões de habitantes, já passa de 4.600, enquanto seus vizinhos Noruega, Dinamarca e Finlândia, com uma população somada de 16,6 milhões, registraram ao todo até agora cerca de 1.100 mortes.

Esta semana, o governo sueco admitiu que deveria ter adotado medidas mais contundentes para conter a pandemia.

Em nota, O Itamaraty disse que não vê críticas ao Brasil nos comentários do presidente américa no: “Trump se referiu a diversos países, entre eles o Brasil, de forma genérica.

''AUSÊNCIA DE RECIPROCIDADE"

Não é a primeira vez que Trump faz menção ao Brasil em um contexto negativo no combate à doença. No fim de abril, lembrou que o país enfrentava um “grand surto” e sugeriu proibir voos par; os EUA, o que acabou ocorrendo mais tarde. Analistas acreditam que as declarações são mais uma evidência clara de que não há reciprocidade nas relações entre os dois países.

 A aposta do governo Bolsonaro em Trump não é de jeito nenhum recíproca. Trump não ressalta qr O Brasil é um aliado e o usa para fazer críticas. As declarações indicam que Bolsonaro não está sequer no radar, talvez esteja no de (Steve) Bannon e outros ideólogos de extrema direita diz Kai Kenkel, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC Rio. O que temos é uma mudança fundamental de 100 anos da diplomacia brasileira que não nos trouxe absolutamente nada em troca.

 Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP, por sua vez, acredita que a declaração de Trump é mais uma tentativa de Trump de enaltecer suas políticas de combate à pandemia do que de criticar O Brasil.

A pequena gafe mostra que Trump não pensa tanto no Brasil quanto Bolsonaro pensa nos EUA. Mas Trump já falou sobre isso outras vezes. Agora, vejo mais como críticas à Suécia do que o Brasil afirmou. No Brasil, deputados da Oposição e independentes endossaram a crítica do americano. Para o líder do Podemos, Léo Moraes, o governo errou ao não definir uma estratégia rigorosa contra o coronavírus. Trump foi duro na fala, mas realista. Em entrevista na Casa Branca, ontem, o presidente também defendeu sua estratégia contra a pandemia e disse que agora os EUA devem mudar o foco para se concentrar em proteger grupos de risco e maior reabertura da economia. O país lidera o número de casos do novo coronavírus, com 1,9 milhão de infecções e mais de 108 mil mortos. Tomamos todas as decisões corretas afirmou, pedindo aos governadores que suspendam as restrições. Tínhamos a maior economia da História. E essa força nos permitiu superar esta horrível pandemia, que já superamos, em grande medida. O Brasil é o segundo em número de casos, mas tem neste momento a maior taxa de aceleração da doença no mundo, uma vez que quase diariamente registra mais casos e mortes. Tendo isso em vista, o Paraguai anunciou que continuará esperando a onda de contágio no Brasil diminuir para reabrir sua fronteira, apesar da forte pressão dos comerciantes. A situação no Brasil é bastante caótica. Vamos esperar passara onda no Brasil para começar afalar sobre reabertura da fronteira disse Guillermo Sequera, chefe da Diretoria de Vigilância da Saúde.