Correio braziliense, n. 20857 , 30/06/2020. Política, p.6

 

Maia: 2º semestre será dramático

Alessandra Azevedo

30/06/2020

 

 

Presidente da Câmara chama a atenção do governo para que, efetivamente, auxilie as micros, pequenas e médias empresas a partir do próximo mês. E voltou a criticar o modelo para liberação de recursos, que não têm chegado a quem está estrangulado financeiramente

A queda da atividade econômica, o estrangulamento das contas do governo federal e o aumento do desemprego evidenciam a necessidade de que o dinheiro público chegue até quem realmente precisa –– garantia ainda mais urgente durante a pandemia do novo coronavírus. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avalia que a situação do país será dramática no segundo semestre e reforçou, ontem, a importância de que o governo socorra as empresas, para evitar dificuldades ainda maiores.

“Eu tenho um pessimismo grande em relação ao segundo semestre no Brasil, porque é o que vai ficar da crise da pandemia. Uma taxa de desemprego maior, uma dificuldade maior das empresas, com resultados negativos, desemprego, falta de renda, falta de investimentos”, disse Maia, em evento on-line promovido ontem pelo jornal O Globo e pelo Instituto Justiça e Cidadania.

O deputado voltou a criticar o modelo adotado para a liberação de crédito às micros, pequenas e médias empresas, que, segundo ele, não tem chegado ao mercado. Ele afirmou que é preciso encontrar uma solução para que o dinheiro alcance, de fato, as empresas, sob o risco de um impacto ainda mais brusco do que o previsto atualmente pelos economistas.

“Os bancos têm renovado o crédito, sem dúvida nenhuma. Mas, para a pequena, a média e a microempresa, tem chegado pouco dinheiro, e se não chegar vai representar uma queda na economia maior do que a projetada hoje, e vai gerar um volume maior de demandas no Judiciário num segundo momento”, disse Maia. O Banco Central prevê queda de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, devido à pandemia.

Segundo o presidente da Câmara, o Ministério da Economia e os bancos têm sido consultados durante a análise de propostas que possam amenizar os efeitos da crise. “O que temos feito, junto com a equipe econômica, é ouvir as empresas e o sistema financeiro para encontrar um ponto de equilíbrio”, disse. “Se você olhar o mercado financeiro, eles têm uma visão. Se você olhar o setor produtivo, tem outra visão. Temos que tentar arranjar um ponto de equilíbrio para que todos contribuam”, defendeu.

O deputado lembrou que a Câmara deve terminar de votar hoje a Medida Provisória (MP) 944, que trata de ajuda às empresas em dificuldade. A MP cria uma linha especial de crédito para auxiliar no pagamento de salários e verbas trabalhistas por até quatro meses. Os deputados aprovaram o texto-base na última quinta-feira, mas ainda precisam votar os destaques, que são sugestões de mudanças pontuais na proposta.

A proposta é que o BC financie até duas vezes o valor do salário mínimo (R$ 2.090) por empregado, com recursos do Tesouro Nacional e de bancos de varejo. O texto original previa o empréstimo para pagamento de salários por dois meses. A modalidade de crédito garante o custeio de quatro meses de salários, com até 30 meses para o pagamento, com juros fixados em 3,75% ao ano.

Valores

Na semana passada, Maia defendeu a prorrogação por mais dois meses do auxílio emergencial de R$ 600, pago pelo governo a trabalhadores sem carteira assinada, autônomos, MEIs e desempregados durante a crise gerada pela pandemia. O presidente Jair Bolsonaro deve anunciar, hoje, se o benefício será estendido, qual será o valor e o número de parcelas.

Maia defende que sejam mantidos os R$ 600 e discute com parlamentares a possibilidade de criação de uma renda mínima universal, que entraria em vigor depois que o auxílio deixar de ser pago. “O importante é que se renovem os R$ 600 por dois meses e nesse período se possa construir um texto com foco e gerando uma condição melhor para os que precisam de uma renda”, disse, na última sexta-feira.