Correio braziliense, n. 20855 , 28/06/2020. Política, p.5

 

PGR quer dados de Rio e São Paulo

Renato Souza

28/06/2020

 

 

LAVA-JATO » Ofício do procurador-geral da República, Augusto Aras, pede informações da operação às forças-tarefas nos dois estados, sob a justificativa de "subsidiar o exercício". O órgão já buscava acesso às apurações de Curitiba, o que provocou racha na instituição

Além de pedir informações sobre ações realizadas pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, a Procuradoria-Geral da República tenta obter dados das ações da operação em São Paulo e no Rio de Janeiro. Um ofício, encaminhado pelo órgão às suas representações nos estados, solicita dados sob o argumento de que são necessários para “subsidiar o exercício” da PGR. A visita da subprocuradora-geral Lindora Araújo — braço direito do titular do órgão, Augusto Aras — à sede do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR) provocou um racha dentro da instituição. Procuradores destacados para atuar na operação deixaram os cargos na sede do Ministério Público, em Brasília.

Integrantes da Lava-Jato, que já criticavam a decisão de Aras, entendem que não é mais possível confiar no chefe do MPF e avaliam que a tentativa de acessar informações, principalmente gravações de ligações realizadas por integrantes da força-tarefa em Curitiba tem como objetivo prejudicar o ex-juiz Sergio Moro, que saiu do governo Bolsonaro fazendo críticas ao presidente. Após a visita de Lindora, integrantes do MPF no Paraná ingressaram com uma reclamação na Corregedoria do órgão. Eles afirmam que a comunicação foi realizada por “cautela” e para “prevenir responsabilidades”.

As diligências da Lava-Jato no Rio subsidiaram a deflagração da Operação Furna da Onça, que apura um esquema de corrupção montando na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e que consiste na prática de rachadinha. Um dos alvos dessa operação é Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Procurado, o órgão esclareceu que “desde o início das investigações, há um intercâmbio de informações entre a PGR e as forças-tarefas nos estados, que atuam de forma colaborativa e com base no diálogo”.  Ainda de acordo com a PGR, “processos que tramitam na Justiça Federal do Paraná têm relação com processos que tramitam no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça)”.

Sobre a ida de Lindora à sede do MPF no Paraná, a PGR informou que o procedimento já estava marcado. “Não houve inspeção, mas uma visita de trabalho que visava a obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações e o acervo da força-tarefa, para solucionar eventuais passivos. Um dos papéis dos órgãos superiores do Ministério Público Federal (MPF) é o de organizar as forças de trabalho”, frisa a nota.