Título: Crises política e financeira
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 25/12/2012, Política, p. 2/3

Uma década no poder significa um governo eleito e reeleito e metade de um mandato do sucessor. Nesse período, o Palácio do Planalto foi ocupado pelo primeiro torneiro mecânico a chegar ao principal cargo político brasileiro e pela primeira mulher a sentar-se na cadeira presidencial. Ao longo desse período, o país viveu a maior crise política da história recente — o mensalão —, a mais grave crise financeira internacional desde a quebra da Bolsa de Valores de 1929 e a inclusão de 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo.

O país conseguiu manter a inflação sob controle, apesar dos solavancos vividos com o receio de o PT chegar ao poder em 2002. Ao término daquele ano, a inflação era de 12,53%. Até novembro de 2012, o IPCA é de menos da metade — 5,01%. Mas em rota ascendente. "Hoje, vemos uma maior flexibilidade na política monetária e fiscal, com uma maior condescendência com a inflação, cujo centro da meta não é mais buscado com o mesmo rigor", declarou ao Correio o professor de economia do Ibmec Gilberto Braga.

A inclusão social também acabou sendo uma característica marcante destes 10 anos de governo petista. A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) realizada entre 2003 e 2011 mostra a evolução gritante. O Índice Gini, que mede a concentração de renda no país, diminui, embora em passos lentos. Em 2002, ele era de 0,573. Hoje, está em 0,508. Quanto mais próximo de 0 e menos de 1, mais justa é a sociedade. "Não há dúvida de que o governo do PT resgatou muitas dívidas históricas e sociais e teve o grande mérito de incluir no debate político as políticas de distribuição de renda", afirmou o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez.

Ao longo destes 10 anos, o país oscilou na evolução do Produto Interno Bruto (PIB). O chamado "espetáculo do crescimento" anunciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demorou a sair do papel. No primeiro ano (2003), inclusive, o PIB foi quase zero — 1,15%. Naquele ano, o rendimento médio mensal do brasileiro caiu em relação ao de 2002 — R$ 1.031 ante R$ 1.125 (veja arte ao lado).

Mensalão Uma análise do governo petista ao longo dos últimos 10 anos não pode prescindir da discussão sobre corrupção. "A corrupção sempre existiu em outros governos. Ela ficou mais explícita devido ao aumento da eficiência dos mecanismos de controle e fiscalização, como Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU), Ministério Público Federal, Polícia Federal e a própria imprensa", destacou Antonio Augusto de Queiroz, o diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (DIAP).

A despeito da argumentação de Queiroz, o PT vira o ano sofrendo os impactos do mensalão. A cúpula dirigente que levou o partido ao poder em 2003, iniciando o atual ciclo, foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, responsável pela guinada mais ao centro do partido, foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, dois deles em regime fechado. "Os anos de poder corroeram o capital ético do PT", resumiu Cortez.

Para o economista Gilberto Braga, a chegada dos petistas ao poder em 2003, pelo caminho do voto, sem rupturas sociais ou econômicas, representou um avanço no perfil institucional brasileiro. Para Cortez, o perigo é o viés hegemônico que acomete todos os partidos que alcançaram o poder. "Para o bem-estar institucional brasileiro, é fundamental que as maiorias sempre respeitem as minorias, o que nem sempre acontece", completou. (PTL)