Correio braziliense, n. 20856 , 29/06/2020. Cidades, p.14

 

Entrevista - Eduardo Hage: Vigiando a covid de perto

Thais Umbelino

29/06/2020

 

 

Subsecretário de Vigilância à Saúde do DF

A pandemia trouxe muitos desafios à atual gestão do Distrito Federal. Entre eles, o monitoramento constante da evolução do número de infectados pelo novo coronavírus. Segundo o subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage, apenas com uma análise constante é possível ter controle das necessidades na área da saúde durante o período, além da obtenção de mais leitos nas unidades. “Nós estamos acompanhando a curva de evolução dos casos e mantendo o ritmo de entrega (de leitos) proporcional ao número de infectados”, explica o infectologista. Devido à complexidade e particularidades das regiões, Hage não acredita na adoção de um lockdown para todo o Distrito Federal. “É impossível e, a meu ver, seria inócuo, porque o que nós temos que assegurar é que as pessoas adotem as medidas de proteção quando precisem sair, e que fiquem em casa, se puderem. Além disso, que usem máscaras, álcool em gel e façam distanciamento social. Essas são atitudes mais importantes do que um lockdown geral”, aponta.

Hoje, qual a situação do nosso sistema de saúde em relação a leitos e insumos?

Nós estamos acompanhando a curva de evolução dos casos, incluindo os mais críticos, que necessitam de internação. Por isso que vem se mantendo, nas últimas semanas, uma taxa de ocupação entre 50% e 60% dos leitos. Na mesma medida que se tem aumentado o número de casos, o crescimento da capacidade de atendimento também está ampliado. Claro que o ideal era termos uma quantidade de leitos como tínhamos no início da pandemia, mas devido a vários fatores, de grande demanda, o ritmo de entrega tem sido proporcional ao número de infectados. A expectativa é de que continue assim. Essa semana serão instalados mais leitos.

Mesmo com a chegada de equipamentos e abertura de novos leitos, há profissionais e insumos suficientes para que eles funcionem efetivamente?

Sim, nós fizemos algumas contratações por concurso, para contratação temporária. Essa semana houve uma nova contratação de profissionais, que foram rapidamente incorporados. Em uma situação de pandemia, a velocidade em que ela ocorre, não é possível atingir uma quantidade que seria ideal, então é necessário fazer adaptações necessárias a essa ampliação. Como os estados têm passado por fases diferentes da pandemia, há uma migração de profissionais dos locais que já passaram pelo pico.

Qual a previsão para a chegada do pico?

É natural que o período do pico mude de acordo com a evolução da pandemia. A cada semana, nós atualizamos as projeções, por isso, pela análise, a secretaria observou que a previsão mais recente do pico deve estar em torno do próximo fim de semana, no máximo na semana seguinte. Mas, é mais provável que ele já se dê nesta semana que entramos agora. Pelos últimos dados, porém, não há indícios de que vai haver uma explosão de casos, como tem sido registrado até o momento. Na média, essa taxa de crescimento está abaixo de 5%. Isso vem se repetindo, pelo menos, há cinco semanas. Essa chegada até o pico tende a aumentar gradualmente e depois voltar a cair, com menor ou maior velocidade, como a exemplo de Manaus. A importância é que, como a rede tem aumentado a capacidade de atendimento gradativamente, com a chegada do pico, será possível atender a todos os casos.

As medidas de flexibilização tiveram impacto no crescimento de casos?

Em princípio, pelo que nós temos analisado, parece que não há essa relação linear com o crescimento de casos. Esse aumento diário mantém-se constante, mesmo depois da última abertura do comércio. A gente ainda tem que entender alguns fatores que não estão muito claros, e que se você observar em algumas regiões do DF, como Ceilândia, Estrutural e Sol Nascente, as atividades comerciais já eram intensas, ou seja, há questões que temos de verificar se é possível manter uma taxa de isolamento. O aprendizado nessa pandemia é entender que há diversas formas que a mensagem chega à população, mas que não é uma relação linear; há muitos fatores comportamentais, de renda, emprego, modo de vida da pessoa, e se a gente não entender bem as particularidades de cada um, fica um discurso vazio. Temos que estar abertos em como a população participa desses fatores, como as pessoas adotam as medidas e como aprimorar a comunicação para que os cuidados se tornem um hábito.

O senhor acredita que será necessário fazer lockdown?

 O lockdown para todo o Distrito Federal é impossível e, a meu ver, seria inócuo, porque o que nós temos que assegurar é que as pessoas adotem as medidas de proteção quando precisam sair, e que fiquem em casa, se puderem. Além disso, que usem máscaras, álcool em gel e façam distanciamento social. Essas são atitudes mais importantes do que um lockdown geral. Claro, se houver algum crescimento fora do padrão em algumas áreas, pode ser uma das medidas adotadas, mas isso seria pontual, como foi feito em Ceilândia, Estrutural e Sol Nascente.

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DF passa das 500 mortes

Walder Galvão

29/06/2020

 

 

Projeção da Secretaria de Saúde estima que o Distrito Federal deve atingir o pico da pandemia do novo coronavírus até a primeira quinzena de julho. Ontem, a capital registrou 2.139 diagnósticos e 11 vítimas. Com as novas notificações, a quantidade de infectados passou para 44.905 e a de óbitos, para 501.

Para especialistas, a flexibilização das regras de restrição pode impactar o tempo de disseminação da covid-19, postergando a chegada do pico da crise. Ontem, Taguatinga, a terceira região administrativa de maior incidência do coronavírus, chegou a 3.205 casos do novo coronavírus. A cidade aproxima-se do Plano Piloto, que ocupa a segunda colocação do ranking e soma 3.209 infectados.

Ceilândia continua em primeiro lugar e chegou a 6.002 registros de covid-19. Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) (24), Fercal (26) e Varjão (53) são os locais da capital com menos infectados. Até agora, a Secretaria de Saúde contabiliza 30.070 pacientes recuperados do coronavírus.

Por isso, 14.287 casos são considerados ativos. Desses, 37 têm quadro clínico considerado grave; 78, moderado; 55, leve; e 14.117 ainda estão em análise. No total, 21.747 homens e 23.158 mulheres pegaram a doença. O primeiro caso de coronavírus no DF foi registrado em 5 de março e, 14 dias depois, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu suspender as atividades não essenciais na capital.

Após esse período, diversos setores receberam autorização para reabrir as portas, o que desencadeou o crescimento do número de casos, segundo especialistas. Em 27 de maio, o Executivo permitiu a abertura dos shoppings. À época, o DF tinha 7.761 casos, número mais de 40 vezes menor do que o atual.

Apesar da expectativa da Secretaria de Saúde de que o pico da pandemia no DF ocorra na primeira quinzena de julho, o epidemiologista Walter Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), explica que o termo é usado quando cerca de 70% da população é diagnosticada com uma doença e consolida-se uma espécie de imunidade coletiva, quando uma grande parte da comunidade não contrai a patologia e o vírus não encontra mais espaço para se propagar.

“Nós ainda temos uma margem muito grande de agravamento. Essa previsão do governo funciona dentro de um cenário com restrições de socialização, que pode ser alterada conforme ocorram flexibilizações”, afirmou. O estudioso esclarece que, ainda, não há solução farmacológica para combater a covid-19, como vacina ou remédio efetivo.

Por isso, as medidas de restrição são necessárias para afetar a curva de contaminação. “Vamos chegar a um pico, mas não acredito que ele seja daqui a duas ou três semanas. Porque isso está modelado por políticas. A única forma de diminuir os casos é o isolamento. Sem isso, eles podem voltar a subir novamente”, reforçou.

  O infectologista do Hospital Brasília, Alexandre Cunha, reforça que, quanto mais flexibilização, maior o risco de sobrecarga no recebimento de pacientes. “A gente tem previsão de um pico enorme e há chances de colapso no sistema de saúde. O número de casos já está crescente e a quantidade de óbitos deve atingir o pico após 10 ou 20 dias do de infectados. Por isso, quanto mais distanciamento social, menor a chance de faltar atendimento”, comentou.

Leitos

Balanço mais recente da Secretaria de Saúde mostra que 60,60% dos leitos de UTI da rede pública exclusivos para pacientes com coronavírus estão ocupados. Ao todo, são 502 vagas e 303 internações.

Na rede particular, o sistema está, ainda, mais sobrecarregado. Ontem, segundo monitoramento da pasta, a taxa de ocupação das unidades particulares atingiu 90,41%, a maior desde o início da pandemia. Ao todo, são 219 leitos e 191 pacientes internados. Restam apenas 21 vagas, porque sete delas estão bloqueadas.