Título: Natal de apreensão para cristãos sírios
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Fonte: Correio Braziliense, 25/12/2012, Mundo, p. 13
Minoria vê a violência se aproximar e teme pelo futuro no país. Igrejas esvaziam, mas líder ortodoxo não crê que serão alvo de atentados terroristas
Minoria religiosa na Síria, país dilacerado pela violência há mais de 21 meses, os cristãos mesclam o Natal com o medo dos confrontos e da ascensão dos islamitas. A comunidade de 1,8 milhões de pessoas — cerca de 5% da população — se manteve, em geral, distante da revolta, mas não ficou imune aos horrores da guerra e não esconde o temor de que a tensão sectária aumente o perigo de viver no país.
"Muitos cristãos fazem suas orações em casa, em vez de irem à igreja", lamenta Nassir Ibrahim, chefe da Igreja Evangélica Árabe. A Organização das Nações Unidas (ONU) descreveu o conflito sírio como "abertamente inter-religioso". Ainda assim, a maior parte dos cristãos deve permanecer na Síria, garante o chefe da Igreja Ortodoxa Grega no país, Youhana Yazigi, Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente. "Os cristãos são parte integrante da sociedade síria. Se as pessoas têm medo de ir à missa de Natal não é porque eles têm medo de que as igrejas sejam alvos, mas por causa da insegurança em geral", acrescenta.
Maryam, uma cristã que preferiu não ser identificada, disse à AFP que um dos seus maiores medos é a ascensão de "terroristas armados" que a obriguem a "usar o véu e a não trabalhar para ficar em casa". Em um país onde 80% da população é sunita, a escalada na violência traz, ainda, o medo de que a queda do presidente Bashar al-Assad, parte da minoria alauita, imponha a crença muçulmana a todo o país.
Ao ver os confrontos perto de sua casa, a engenheira Nadine, 40, busca asilo no exterior. "Não há solução nenhuma para o país", reclama ela, que espera um visto para os Estados Unidos. Nadine faz parte de um grupo de cristãos, em geral mais abastados, que se junta às mais de 40 mil pessoas que fugiram da Síria desde o início da revolta. "Eu não tenho motivos para comemorar o Natal quando perdi parentes", lamenta George, um contador de Damasco, de 38 anos. De Beirute, Rand Sabbagh, esposa do cineasta e ativista Chehade Bassel, morto em maio, diz que todos sofreram perdas com guerra. "Alguns pensavam que o que está acontecendo na Síria não tinha nada a ver com eles, ou que nada lhes aconteceria. Nós nunca imaginávamos que veríamos a morte tão de perto", conta.
Ontem, o mediador da ONU e da Liga Árabe Lakhdar Brahimi se reuniu com al-Assad para discutir uma possível transição de governo, segundo a imprensa internacional. Al-Assad disse que seu regime tem que proteger o povo e a soberania nacional. O encontro aconteceu um dia após quase 200 pessoas serem mortas em conflitos internos, sendo 120 civis.