O globo, n. 31708, 30/05/2020. Economia, p. 19

 

Guedes pede cooperação para enfrentar a crise

Bruno Rosa

Natália Portinari

30/05/2020

 

 

Ministro da Economia defende harmonia entre Poderes para assegurar recuperação da atividade econômica depois da pandemia e afirma que ainda espera uma retomada em 'V', ainda que um 'V' 'meio torto'

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que será necessária a cooperação de todos os Poderes para que o país enfrente a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Nos primeiros três meses do ano, a economia teve retração de 1,5%, e já se fala em queda de mais de 10% para o trimestre corrente.

— Precisamos de cooperação, colaboração, compreensão e solidariedade. É natural que nessa ansiedade, cada um a seu estilo, um pisa no pé do outro. E quem foi pisado dá um empurrão de volta. Agora, acabou. Quando chegar na margem, começa a brigar de novo. Pode brigar a vontade na margem. Se brigar a bordo do barco, o barco naufraga —afirmou Guedes, durante um seminário virtual sobre energia, realizado pelo BNDES.

Ele fez uma referência às brigas entre os Poderes. O Executivo criticou fortemente a investigação sobre fake news conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF): — Quando um Poder pisa no pé do outro, o outro dá um empurrão de volta. Isso é natural. Não é para dizer que o Brasil vai acabar por causa disso, que é uma destruição do capital institucional que temos, que é um golpe. Não tem nada disso. É natural. É da própria crise.

 RETORNO SEGMENTADO

Com relação ao PIB, Guedes elogiou o desempenho das exportações, afirmando que "a maldição acabou virando uma bênção", e disse apostar em uma recuperação em "V". —Caímos rápido, e a volta depende de nós mesmos. Eu falo em "V", pois os sinais vitais da economia estão mantidos. Mas, evidentemente, dependendo de nossa reação pode ser um "U" ou até um "L", de cair e virar uma depressão. Só depende de nós — afirmou. — Prefiro ainda trabalhar ainda com o "V". Pode ser um "V" meio torto? Pode. Poder ser um "V" da Nike? Pode. Mas ainda é um "V" —disse Guedes. Essas são as letras comumente usadas por economistas para classificar os cenários de recuperação. O "V" indica uma retomada rápida, e o "U", uma mais lenta. O "L" aponta depressão. — Continuamos resilientes e inabaláveis, determinados em furar as duas ondas. Primeiro a da saúde, que estamos furando e lutando. Depois, a da economia — disse Guedes, informando que o governo já trabalha em um programa para permitir a retomada da atividade econômica, com a criação de protocolos. O ministro explicou que o retorno ao trabalho deve ser segmentado por unidades geográficas. Regiões de menor densidade demográfica, onde o risco de contágio é menor, reabririam primeiro. Mas ressaltou que os protocolos ainda estão em análise: — Todo mundo já está examinando e adotando os protocolos para um retorno seguro ao trabalho, quando a saúde permitir e der o sinal de que está na hora de avançar. Ele ainda destacou as iniciativas de reforma feitas pelo governo e afirmou que, antes da pandemia, estava tudo encaminhado para aprovar o novo pacto federativo. —O Brasil tem uma democracia barulhenta, vibrante, mas que está entregando. Entregou a reforma de Previdência no ano passado. O início da transformação do Estado brasileiro está acontecendo. Este ano estávamos preparados para fazer o pacto federativo, com a transferência de R$ 450 bilhões para estados e municípios.

 MAIA: PROBLEMA É O VÍRUS

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o coronavírus vai derrubar o PIB brasileiro este ano. O impacto, segundo ele, independe das medidas de isolamento para controlar a disseminação da Covid-19. E também defendeu a união: — Vai ser um baque muito grande, por isso a gente tem que estar unido. Vamos ter uma taxa de desemprego muito maior, informalidade muito grande, a informalidade deve passar dos 50% da mão de obra. Então é um momento muito difícil, hora de mais diálogo, paciência, sensatez —disse Maia em entrevista à TV Bandeirantes. Com relação ao impacto do vírus na economia, ele citou os exemplos de Suécia e Dinamarca. O governo sueco não impôs restrições severas à circulação de pessoas, e a taxa de óbitos superou a das demais nações nórdicas. A retração da economia, porém, foi semelhante nos dois países. — Quanto maior o número de mortes, maior o impacto na própria economia, porque uma tragédia como essa sempre vai impactar a decisão das pessoas, elas têm medo —afirmou Maia.