O globo, n. 31706, 28/05/2020. País, p. 7

 

Ministro do STF defende ação rápida contra milícias virtuais

Cleide Carvalho

28/05/2020

 

 

Em seminário da Abraji e OAB, Alexandre de Moraes defendeu a imprensa

 O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu ontem ação rápida do Judiciário para a responsabilização de milícias virtuais que visam, segundo ele, a minar a liberdade de imprensa por meio de ataques e ameaças a jornalistas para intimidar e impedir a produção de notícias. Estas milícias, diz Moraes, deram um salto de atuação, deixando de promover apenas ataques a políticos e ao Congresso para intimidar a imprensa e o Judiciário.

— Estamos vivendo um momento preocupante em relação à liberdade de imprensa, não por atos formais de censura. Estamos vivendo por algo muito mais importante, que não é escancarado, que é a ameaça presencial e virtual a jornalistas e suas famílias — afirmou Moraes, que participou do seminário online Liberdade de Imprensa: Justiça e segurança dos jornalistas, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Para o procurador-geral da República, Augusto Aras, também no seminário, embates entre a liberdade de informar e as notícias falsas (fake news) têm levado a tensões, como a recentes episódios de agressão física contra jornalistas.

— Liberdade de imprensa e liberdade de expressão integram o mesmo valor, da liberdade da pessoa humana —disse o procurador.

O ministro Luís Roberto Barroso, que tomou posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última segunda-feira, afirmou que o populismo autoritário tem desconstruído as regras da democracia e cerceando a liberdade de imprensa:

— Os populismos autoritários têm grande animosidade com as instituições intermediárias, entre as quais a imprensa, as entidades de classe e os parlamentares. São depreciativos em relação à imprensa, na tentativa de desacreditá-la.

Marcelo Träsel, presidente da Abraji, afirmou que é triste, neste momento, ter que criar uma rede de proteção jurídica para jornalistas, o que foi feito em parceria com a OAB:

—Desde o fim da ditadura militar não teve tantas ameaças à liberdade de imprensa no país —diz.

O advogado Pierpaolo Bottini, coordenador do Observatório de Liberdade de Imprensa, formado pela OAB e pela Abraji, afirmou que é preciso ir além das manifestações de repúdio.

— É preciso identificar agressores que se escondem atrás de teclado ou bandeira.