O globo, n. 31709, 31/05/2020. Mundo, p. 30

 

Tensão nos EUA

31/05/2020

 

 

Protestos não param e Trump pede linha dura

 Diversos estados americanos se preparavam ontem para a quinta noite de protestos desencadeados pela morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos, por policiais, enquanto o presidente Donald Trump ordenava a mobilização da Polícia Militar do Exército para uma eventual intervenção e instava governadores e prefeitos, muitos deles da oposição democrata, a agirem de forma “muito mais dura” contra os manifestantes. Ele criticou o que chamou de ações violentas de “saqueadores e anarquistas”.

Na noite de sexta-feira e na madrugada de ontem, manifestações em várias cidades americanas terminaram em saques e incêndios de prédios públicos. No estado de Minnesota, onde Floyd foi morto na última segunda-feira, na cidade de Minneapolis, o governador Tim Walz, democrata, rejeitou a intervenção dos militares, mas anunciou a mobilização de todo o efetivo da Guarda Nacional no estado, de 13.200 homens, caso as multidões continuassem a desafiar o toque de recolher imposto na sexta.

DOIS MORTOS

Ontem de manhã, as autoridades de Minnesota reconheceram que foram incapazes de controlar os protestos. Walz disse, sem dar detalhes, que parte dos saques e incêndios em Minneapolis está sendo promovida por supremacistas brancos e pessoas ligadas ao narcotráfico, que teriam vindo de fora do estado. Segundo o governador, 80% dos detidos nos protestos no estado não são de Minnesota. A morte de George Floyd por um policial branco, Derek Chauvin, que na sexta feira foi preso e acusado de homicídio em terceiro grau —quando um indivíduo não tem a intenção de matar, mas age com grande indiferença à vida humana — gerou a revolta. Em Washington, houve tensão entre agentes do Serviço Secreto e manifestantes que tentaram invadir a Casa Branca. Também houve protestos, que continuaram durante o dia de ontem, em Nova York, Dallas, Atlanta, Houston, Memphis e Portland.

A família de Floyd — um ex-atleta que trabalhava como segurança de casas noturnas em Minneapolis e ficou desempregado por causa da pandemia da Covid-19 — saudou ontem a prisão de Chauvin como um primeiro passo “no caminho da justiça”, mas a considerou insuficiente. “Queremos uma acusação de homicídio doloso e queremos ver os outros policiais (implicados) presos”, disse a família em comunicado. Durante a madrugada, dois homens morreram nas manifestações. Em Detroit, Michigan, um manifestante de 19 anos foi atingido por uma uma pessoa que passou atirando de dentro de um carro contra a multidão que protestava contra a “brutalidade policial”. Em Oakland, na Califórnia, um oficial do Serviço de Proteção Federal morreu depois de ser baleado.

Em Houston, Texas, quase 200 pessoas foram presas. De acordo com as autoridades, quatro policiais sofreram ferimentos leves e oito veículos da polícia foram danificados. Em Nova York, também houve dezenas de prisões depois que manifestantes invadiram o perímetro de segurança do Barclays Center, no Brooklyn. Em Atlanta, Geórgia, a sede da emissora da CNN teve os vidros quebrados e o Legislativo estadual foi cercado. No Twitter, Trump disse que os manifestantes teriam sido recebidos com “cães cruéis” e “armas ameaçadoras” caso a Casa Branca tivesse sido violada. “Prefeitos e governadores esquerdistas têm que ser muito mais duros ou o governo federal vai intervir e fazer o que tem que ser feito, e isso inclui o poder ilimitado de nossos militares e muitas prisões”, ameaçou.