Título: Lixo, problema de todos
Autor: Paranhos , Thaís
Fonte: Correio Braziliense, 26/12/2012, Cidades, p. 23

De acordo com especialistas, sociedade, governo e cooperativas precisam se unir para garantir o tratamento adequado dos resíduos produzidos na capital. As iniciativas do poder público devem incluir ações educativas e parcerias

THAÍS PARANHOS

A separação do lixo doméstico somada à coleta seletiva eficiente e à sintonia entre catadores e governo seria suficiente para dar destinação correta aos detritos produzidos no DF. Para especialistas ouvidos pelo Correio, a falta de gestão adequada dos resíduos sólidos e a desinformação da população formam um ciclo vicioso. De um lado, o Executivo não implementa uma política para o setor; de outro, a sociedade não participa desse trabalho por conta da inexistência de programas de educação ambiental. Como resultado, a capital federal continua a dar um péssimo exemplo para o resto do país.

A coordenadora da linha de pesquisa de Gestão e Tecnologia em Resíduos Sólidos do Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis) da Universidade de Brasília (UnB), Maria Vitória Ferrari, critica o cenário atual. Diante da inércia do Estado, a pesquisadora sugere que a sociedade desenvolva parcerias com administrações de quadras e de condomínios, além de cooperativas de catadores. "Com o tempo, essa rede vai se fortificando. Isso não substitui o poder público, mas a política de resíduos sólidos deve ser compartilhada. Todos nós somos responsáveis como cidadãos e consumidores", aponta.

Para a professora do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB) Regina Dalston, a falta de educação é hoje em um dos principais entraves para uma política de resíduos sólidos eficiente no DF. "Não existe uma preocupação com a questão ambiental, com o lixo domiciliar. Não há uma ampla divulgação, e as organizações estão muito desmotivadas a trabalhar", opina. Segundo a docente, os programas precisam levar em conta todo o processo, desde a geração dos detritos até a destinação final. "O primeiro passo deve ser dado dentro das escolas. É um absurdo não haver investimentos em educação, nem cursos técnicos de reciclagem ou de técnica direcionada", completa.

Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB, Izabel Zaneti concorda. "Vivemos em uma cidade com uma grande miscigenação, as pessoas vêm de todo canto do país e não há um sentimento de pertencimento. Esse seria o primeiro ponto a ser trabalhado", sugere. Para ela, é fundamental conscientizar a população sobre a importância ambiental, econômica e social da reciclagem. "Quem separa os resíduos precisa saber que, do outro lado, há trabalhadores que dependem do lixo", disse.

Em paralelo às ações educativas, Izabel destaca a importância do papel do Estado nesse trabalho. "O governo precisa implantar políticas públicas, com caminhões específicos para a coleta e apoio às cooperativas. Também é preciso penalizar quem não separa o lixo. Isso pode ser feito de duas maneiras, pela consciência ou pela multa", explica. A pesquisadora acredita que essa ação depende ainda de um projeto mais amplo. "Saneamento básico e coleta seletiva devem vir acompanhados de um processo de educação, do contrário, não faz sentido", finaliza.

Ineficiência

Consciente da ineficiência da coleta seletiva no Distrito Federal, o diretor-geral do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Gastão Ramos, reconhece que o sistema deixa a desejar, mas destaca o esforço do governo para melhorá-lo. "Temos um edital pronto que está sob análise. Vamos dividir o DF em quatro quadrantes e atuar em todas as regiões administrativas. Assim, poderemos alimentar uma cadeia produtiva e melhorar a qualidade de vida da população do DF", confia. Ele também ressalta a necessidade de envolver os brasilienses nessa discussão. "Não adianta montar toda essa estrutura e a população continuar a misturar o lixo", avalia.

Em sintonia com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, Gastão explica que o GDF vai licitar sete aterros de tratamento de resíduos da construção civil. Além de construir o Aterro Oeste em Samambaia, serão erguidas mais 12 unidades de triagem para acolher as cooperativas e acabar com o Lixão da Estrutural ainda em 2013. "O mais importante é termos um plano ligado à política nacional", completa. Atualmente, há sete centros de triagem no DF, localizados nas asas Sul e Norte, no Varjão, em Brazlândia, em Ceilândia e no Gama.

Descarte responsável

Veja onde ficam os pontos de coleta de lixo eletrônico do DF:

Asa Sul Avenida das Nações, S/N, às margens do Lago Paranoá Telefone: 3213-0193

Asa Norte Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN), Lote 23 Telefone: 3213-0194

Gama (Setor Norte) Avenida Contorno, Área Especial, Lote 2 Telefone: 3556-1442

Taguatinga Norte QNG 47, Área Especial nº 9 Telefone: 3354-3140

Sobradinho Área Especial para Indústria nº 3, lotes 4 a 6 Telefone: 3591-6723

Brazlândia (Setor Leste) Área Especial nº 2, lotes I,J,K,L Telefone: 3391-1206

Ceilândia Norte QNN 29, módulos G a K, Área Especial Telefone: 3585-2711

Samambaia Sul Área Especial S/N QS 302, Centro Urbano Telefone: 3358-2414

Paranoá e Itapoã Quadra 5, Área Especial D, lotes 1 e 2 Telefone: 3369-4595

São Sebastião Quadra 305, Conjunto 14, Área Especial Telefone: 3335-9038

Planaltina Área Especial Norte, lotes 11 e 12 Telefone: 3389-1018

Recanto das Emas Avenida Vargem da Benção, Chácara nº 3 Telefone: 3333-3733

Santa Maria (Sul) CL 408, Bloco A, Área Especial Telefone: 3392-1298

Lixeira eletrônica

Com a era digital, surgiu a preocupação de como descartar o lixo eletrônico. Somente no Distrito Federal, são produzidos mensalmente entre 400kg e 500kg desse tipo de resíduo, que inclui pilhas, computadores e baterias, de acordo com dados do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Para garantir a destinação correta dos detritos, o SLU mantém 13 Núcleos de Limpeza, onde funcionam pontos de entrega voluntária (PEVs).

Monitores e torres de computadores são as principais peças de descarte entre o lixo eletrônico no DF. Nos locais de entrega espalhados nas regiões administrativas, o SLU consegue repassar adiante os equipamentos jogados fora para serem desmontados e usados na reciclagem. A empresa recolhe os materiais descartados e entrega aos parceiros responsáveis pelo recolhimento. No DF, não há indústrias que façam a reciclagem.

No próximo ano, o SLU pretende criar mais seis PEVs. O descarte incorreto de lixo eletrônico pode provocar danos ambientais, já que muitos materiais têm metais pesados e altamente tóxicos, como mercúrio e chumbo. Segundo especialistas, em contato com o solo, os produtos contaminam o lençol freático e a água que abastece as residências. (TP)