Correio braziliense, n. 20859 , 02/07/2020. Saúde, p.18

 

Resultados positivos em testes com vacina

02/07/2020

 

 

A empresa alemã BioNTech e o laboratório farmacêutico americano Pfizer anunciaram os primeiros resultados da vacina para a covid-19 que desenvolvem em conjunto. Os dados preliminares foram obtidos em testes com 45 participantes e tinham o objetivo de verificar se a fórmula é tóxica e desencadeia uma resposta do sistema imunológico de resistência ao vírus. Segundo o estudo publicado na plataforma on-line BiorXiv, as expectativas foram atendidas.

Os voluntários, com idade entre 18 e 55 anos, receberam duas doses da vacina ou de placebo, com 21 dias de intervalo entre as doses. A análise era duplo-cega — nessa modalidade, nem cientistas nem participantes sabem quem recebeu a terapia experimental ou o placebo.

Os dados obtidos foram bastante positivos, enfatizam participantes do projeto germano-americano. “A vacina experimental BNT162b1 é capaz de gerar uma resposta de anticorpos neutralizantes em seres humanos em níveis maiores ou iguais aos observados em plasmas convalescentes, e tem esse efeito com doses relativamente baixas”, destaca, em comunicado, Ugur Sahin, CEO da BioNTech. O soro, ou plasma convalescente, é coletado do sangue de pessoas recuperadas da infecção por Sars-CoV-2 e também tem sido testado em pesquisas de combate ao novo coronavírus.

Febre

Apesar dos dados animadores, os autores destacaram, no estudo, que um número relativamente grande de participantes teve febre após receber a segunda dose.  A tecnologia da vacina é a BNT162b1, baseada no RNA mensageiro, um código genético que é inserido nas células humanas com o objetivo de produzir anticorpos específicos para o coronavírus.

De acordo com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, 23 projetos de vacinas iniciaram tetes com humanos, sendo que boa parte deles está nas segunda e terceira fases dos ensaios, quando as fórmulas são aplicadas em milhares ou dezenas de milhares de voluntários para verificar sua eficácia.

23

projetos de vacina contra a covid-19 estão na fase de testes com humanos, segundo a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres

Palavra de especialista

Muito a investigar

“Pouco se conhece ainda a respeito da resposta imune à infecção provocada pelo Sars-CoV-2. Não sabemos como é a produção de anticorpos, quão longa é, ou seja, por quanto tempo dura, nem se eles podem desempenhar um papel protetor.  Um dos pontos mais intrigantes, por exemplo, é que temos visto que pessoas que tiveram a infecção mais leve parecem ter resposta imune menos completa do que os que tiveram casos mais graves. O número de anticorpos desse segundo grupo é maior, mas não sabemos por que isso ocorre. Os testes que mais usamos na população em geral apenas detectam os anticorpos, mas não conseguem avaliar a imunidade celular, algo mais complexo, que foi o avaliado nesse estudo. Esse trabalho é um dos vários que têm se dedicado a investigar esse tema, em busca de mais dados, e traz um pouco mais de luz sobre esses mecanismos de defesa em relação ao vírus. Porém, ainda temos muito o que investigar.”

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)