O globo, n. 31699, 21/05/2020. País, p. 7

 

Carlos cobrou BB por anúncio em site suspeito

Gustavo Maia

Daniel Gullino

21/05/2020

 

 

Alertado por movimento nas redes, Banco do Brasil retirou publicidade de plataforma condenada por ofensas e acusada de compartilhar fake news. Filho do presidente criticou a decisão, e chefe da Secom prometeu ‘contornar a situação’

 O Banco do Brasil (BB) informou ontem que irá suspender seus anúncios em um site acusado de compartilhar notícias falsas. O anúncio ocorreu após uma campanha promovida pelo movimento Sleeping Giants Brasil (“gigantes adormecidos”, em inglês), recém-criado com o objetivo de denunciar publicidade em sites classificados como “preconceituosos ou de fake news”. Empresas privadas também já anunciaram mudanças em suas políticas após a campanha ser iniciada.

Depois do anúncio por parte do BB de que retiraria o anúncio, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro, criticou a decisão, defendendo que o banco estaria menosprezando as “midias alternativas”. Diante da crítica, o chefe da Secretaria de Comunicaçãoda Presidência, Fabio Wajngarten, responsável pela publicidade do governo federal, indicou que pode reverter a decisão do banco.

O Sleeping Giants Brasil é um perfil no Twitter, criado na última segunda-feira, inspirado em uma página de mesmo nome que existe desde 2016 nos Estados Unidos. “Visamos impedir que sites preconceituosos ou de fake news monetizem através da publicidade. Muitas empresas não sabem que isso acontece, é hora de informá-las”, diz a descrição do perfil, que tem mais de 30 mil seguidores.

Não há uma identificação sobre os responsáveis pela página. O perfil cobrou anteontem o Banco do Brasil por anunciar no portal Jornal da Cidade Online, argumentando que o site é conhecido por espalhar fake news. O site Aos Fatos, especializado em desmentir notícias falsas, já classificou o Cidade Online como uma “rede articulada de desinformação”.

Recentemente, a Justiça do Rio condenou os donos do site a indenizarem em R$ 150 mil o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por danos morais. Na decisão, a juíza Sylvia Therezinha Hausen de Area Leão afirmou que as publicações do site sobre Santa Cruz “possuem caráter indubitavelmente ofensivo e injurioso, principalmente as que afirmam que o autor é de baixíssimo nível, que sua administração causou a falência da OAB e que o autor é um escroque”. A defesa de Santa Cruz ressaltou que os réus usaram o site para dizer também que ele havia levado a OAB “à derrocada”.

REPÚDIO

O Banco do Brasil respondeu ontem à publicação no Twitter dizendo que “os anúncios de comunicação automática foram retirados e o referido site bloqueado”. O banco acrescentou repudiar “qualquer disseminação de fake news”. Outras empresas, como a Telecine,a Delleo Canal History, também já declararam que vão deixar anunciar no Jornal da Cidade Online, após a campanha do Sleeping Giants Brasil.

Após a publicação do movimento no Twitter e antes do anúncio do Banco do Brasil, o Jornal da Cidade Online publicou um texto se dizendo vítima de um ataque “obviamente orquestrado”. O veículo também disse fazer parte de uma “tradição jornalística de mais de 40 anos, 13 deles em versão online” e afirmou atuar em “conformidade com todas as plataformas de anúncios e redes sociais das quais participa”.

Carlos Bolsonaro saiu ontem em defesa do site, afirmando que o Banco do Brasil “pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas”. Já o chefe da Secom criticou o Sleeping Giants, dizendo que o perfil “precisa urgentemente deixar o viés ideológico de lado na hora de fazer suas supostas denúncias”. Depois, cobrado por usuário do Twitter que citou o caso, Wajngarten afirmou estar “contornando a situação”, sem entrar em detalhes.

O GLOBO procurou o Banco do Brasil e a Secom mas não houve resposta. O perfil Sleeping Giants Brasil também não respondeu.

O perfil Sleeping Giantes dos EUA tem mais de 260 mil seguidores no Twitter e usa o lema “tornar o fanatismo e o sexismo menos lucrativos”. A conta ficou conhecida por expor anúncios de empresas no site conservador Breitbart News, ligado a Steve Bannon, ex-estrategista do presidente americano Donald Trump, o que levou o portal a perder receitas. O perfil foi criado pelo publicitário Matt Rivitz.