O globo, n. 31699, 21/05/2020. Especial Coronavírus, p. 9

 

ENEM e adiado por ate 60 dias

Paula Ferreira

Bruno Góes

Gabriela Oliva

21/05/2020

 

 

Sob pressao,  Weintraub mudara datas do exame

Pressionado pelo Congresso e por entidades estudantis, o ministro Abraham Weintraub (Educação) anunciou ontem o adiamento da aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelo período de 30 a 60 dias em relação às datas previstas. O cronograma previa aplicação das provas presenciais em 1º e 8 de novembro, e das provas virtuais nos dias 22 e 29 de novembro.

O ministro era resistente ao adiamento. Nas últimas semanas, foi cobrado insistentemente por parlamentares. O argumento usado era a suspensão de aulas em escolas públicas e privadas em função da pandemia do novo coronavírus. Nas reuniões, Weintraub não cedeu. Diante da postura do ministro, o Senado aprovou anteontem projeto que previa o adiamento das provas.

Com a derrota, Weintraub recuou e anunciou a decisão pelas redes sociais. Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira disse que o adiamento ocorreu em atendimento “às demandas da sociedade e manifestações do Poder Legislativo em função do impacto da pandemia do coronavírus no Enem 2020”.

ENQUETE EM JUNHO

O Inep afirmou ainda que a decisão sobre a nova data será tomada depois de concluída uma enquete com os inscritos para o exame. Ela será feita em junho, por meio da página do participante.

Além do Senado, a Câmara previa votação ontem de projeto que também adiava o Enem. Mesmo com o anúncio de Weintraub, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o tema seguiria na pauta, porque não podia “acreditar naquele ministro”. Ele só desistiu depois que o presidente Jair Bolsonaro confirmou em rede social que a aplicação do exame será postergada.

No Facebook, Bolsonaro escreveu: “Por conta dos efeitos da pandemia de Covid-19 e para que os alunos não sejam prejudicados pela mesma, decidi, juntamente com o presidente da Câmara dos Deputados, adiar a realização do Enem 2020, com data a ser definida”.

— Eu não posso desconfiar da palavra do presidente da República. Se o presidente da República deu a palavra, escreveu no Facebook, e não cumprir a palavra, daí para frente, até com os deputados que são da base do governo, as relações estarão completamente inviabilizadas. Então eu não tenho como duvidar da palavra do presidente, que escreveu nas redes sociais dele. A matéria vai a voto a qualquer momento se, por acaso, aquilo que está escrito no

Facebook do presidente não for confirmado numa portaria, num decreto, num instrumento legal que o presidente vá publicar nos próximos dias —disse Maia.

Como O GLOBO revelou em março, a equipe técnica responsável pelo exame sempre defendeu o adiamento da prova, mas dependia de uma palavra final do ministro da Educação, que advogava publicamente pela manutenção das datas.

Vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Fred Amâncio comemorou o adiamento do exame. A mudança no cronograma do Enem era uma demanda do Consed, que chegou a se posicionar formalmente sobre o tema. Segundo ele, é positivo também que o MEC não tenha marcado uma nova data, o que dá margem para que o governo discuta o calendário da prova com os estados. Para Amâncio, a pressão do Congresso foi decisiva.

— É positivo ter esse anúncio oficial e não só a falácia da possibilidade de adiamento. Adiar e não definir uma data específica é outro ponto positivo, é necessário abrir canal de diálogo sobre essa nova data, que envolva o Consed, as universidades públicas, particulares. Já temos um prazo muito longo de suspensão das aulas. Anteontem houve sinalização forte do Congresso Nacional. O único voto contrário ao adiamento foi o do senador Flávio Bolsonaro. Isso virou quase unanimidade no Brasil.

As entidades estudantis, União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), também celebraram o adiamento.

Em nota, elas disseram que “a votação no Senado, por 75 votos a 1, e o recuo do MEC e do Inep, com o anúncio oficial do adiamento das datas, representam grandes vitórias, fruto dessa intensa pressão dos estudantes e mais uma derrota para Bolsonaro e o Weintraub, reforçando a incapacidade deste governo para tratar a Educação. Hoje a Ubes e a UNE comemoram esta vitória de todos estudantes e seguem na luta e atentas”.