O globo, n. 31699, 21/05/2020. Especial Coronavírus, p. 13
COVID-19 na fronteira
21/05/2020
A interlocução com as autoridades brasileiras para enfrentar a propagação do novo coronavírus na fronteira com o Amazonas tem sido “absolutamente difícil”, afirmou ontem o ministro da Saúde da Colômbia, Fernando Ruiz. Com 613 mortes e 16.935 casos, o país mantém confinada a maioria de sua população, mas é na região de fronteira que a situação é mais crítica.
— Acho que uma reação conjunta com o Brasil não é muito viável e nos obriga a redobrar nossos esforços em Leticia (na fronteira) — disse Ruiz à estação W Radio.
O ministro afirmou que a falta de uma estratégia nacional no lado brasileiro — onde fica Tabatinga que, na prática, forma um só município com Leticia —tornou um “diálogo absolutamente difícil” com as autoridades locais.
— Tentamos estabelecer com eles a possibilidade de realizar ações conjuntas para que a estratégia na área de Leticia-Tabatinga seja integrada e única, mas isso está sendo absolutamente lento —disse o ministro.
Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Saúde disse que está combinando com a Colômbia uma reunião “com o intuito de reforçar a assistência prestada à população da região” e que nesta semana o governo federal entregou auxílio emergencial a dois municípios do interior do Amazonas, sendo um deles Tabatinga.
O presidente da Colômbia,o conservador Iván Duque, chegou a ser considerado um dos principais aliados de Jair Bolsonaro. Os dois têm a mesma posição em relação à Venezuela, por exemplo, e não reconhecem o atual governo de Nicolás Maduro. Mas Duque tem sido crítico em relação à gestão brasileira da pandemia.
Na última sexta-feira, houve uma reunião entre ministros dos dois países. Segundo Duque, ficaram acordados quatro pontos: o fortalecimento da presença militar na fronteira, um mecanismo para “homogeneizar medidas” —especialmente em Tabatinga —, o surgimento de um protocolo de coordenação para que “cada medida adotada pela Colômbia seja respeitada pelas autoridades brasileiras” e a criação de um grupo para enfrentar a Covid-19 na região.
No mesmo dia, o governo da Colômbia, que já havia reforçado a presença militar, anunciou quarentena total no departamento (estado) do Amazonas, cuja capital é Leticia. A situação na fronteira é crítica: 90 em cada 10 mil habitantes do Amazonas colombiano foram diagnosticados com o novo coronavírus. Para fins comparativos, a taxa na capital, Bogotá, é de 5,5 para cada 10 mil habitantes. A situação é particularmente grave em Leticia, onde há 49 mil pessoas e apenas um hospital público. Foram registrados mais de mil casos e pelo menos 35 mortos.