Título: Empresário torturado na era Vargas
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 12/01/2013, Política, p. 4

Depois de 60 anos de silêncio, o empresário baiano Boris Tabacof revelou à Comissão Nacional da Verdade (CNV) o que se passou com ele nos 400 dias em que esteve preso, por motivos políticos, entre 1952 e 1954. Os depoimentos, tomados em novembro do ano passado, foram os primeiros concedidos à comissão sobre episódios que aconteceram fora do período da ditadura militar (1964-1986). Hoje com 84 anos, Tabacof era, no segundo governo de Getúlio Vargas, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dava suporte a militantes que atuavam infiltrados nas Forças Armadas.

O empresário relatou as torturas que sofreu na prisão à Maria Rita Kehl e a Paulo Pinheiro, integrantes da CNV. Além dele, um civil e 28 militares foram presos. O governo queria apurar a presença de comunistas nas Forças Armadas.

“Foram bofetadas de todo o jeito, me arrancaram do ônibus, me colocaram numa caminhonete e essa caminhonete foi direto para o Forte do Barbalho (em Salvador)”, descreveu o ex-ativista. “Me obrigaram a tirar a roupa e a ficar nu durante vários dias e a única coisa que tinha nesse cubículo era um balde para as necessidades. E esse balde não era retirado. Então, tinha que dormir no chão e, de vez em quando, chegava um soldado e jogava água”, relembrou. “E como eu não estava contando nada que eles queriam, nem queria assinar, eles foram piorando as coisas. Eu fiquei alguns dias de pé com um soldado, de baioneta calada, ao meu lado, e não deixava que eu me sentasse.”

Confissão Um ano depois, Tabacof foi levado para Sergipe. “Estava tão abatido que havia perdido a noção de tempo e espaço”, disse. Quando voltou para a Bahia, Tabacof acabou assinando uma confissão confirmando que o PCB estava infiltrado nas Forças Armadas. Ele foi solto em julho de 10954.

Tabacof formou-se depois em engenharia civil , virou empresário e, aos 40 anos, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou no Banco Safra e na Suzano Papel e Celulose.

O depoimento prestado à CNV foi a primeira vez que ele falou sobre o que passou. “Eu nunca conversei com a família, nem com ninguém… Foi sempre muito difícil.” A tortura sofrida por Tabacof está dentro do período de análise da CNV, que apura violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.