Título: Lojas do DF vendem suplemento proibido
Autor: Laboissière, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 12/01/2013, Cidades, p. 21

De 20 estabelecimentos consultados pelo Correio, seis comercializam o OxyElite Pro, todos fora do Plano Piloto. Feito à base de dimetilamilamina, o produto está vetado, desde o ano passado, pela Anvisa, porque pode matar o usuário

Proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado, o suplemento alimentar OxyElite Pro deveria ter sido tirado das prateleiras das lojas especializadas de todo Brasil desde julho. No entanto, no Distrito Federal, o produto ainda é comercializado, principalmente fora do Plano Piloto. Segundo especialistas, a substância dimetilamilamina (DMAA) presente no produto pode desencadear diversos problemas de saúde, inclusive levar o indivíduo à morte (Leia arte). Na Austrália e na Nova Zelândia, a venda do suplemento também é ilegal. Assim como o OxyElite, os produtos Jack3D e Lipo-6 Black contêm a mesma substância e estão igualmente vetados no país.

Na última quinta-feira, a reportagem do Correio entrou em contato, via telefone, com 20 estabelecimentos especializados na comercialização de suplementos alimentares. A missão era verificar se o OxyElite Pro, conhecido como “potente emagrecedor”, era vendido nesses locais. Em seis lojas, o produto foi encontrado com facilidade, ao custo de até R$ 200 um frasco com 90 cápsulas. Em outras duas, embora o produto não fosse oferecido no local, vendedores disseram encomendá-lo por outras fontes. Nas demais empresas, o discurso apresentado foi similar. Atendentes informavam sobre a ausência de registro sanitário do suplemento.

Na Hyperform, em Taguatinga, o OxyElite é vendido por R$ 200 a prazo. O preço cai R$ 20 se o pagamento for na hora, em dinheiro. “Ele é um queimador de gordura. Um dos melhores do mundo”, argumentou o vendedor. “Fazemos entrega em todo o DF, caso queira”, acrescentou. Na mesma região administrativa, a Sansão Nutrição anunciou o produto a R$ 175 à vista. Quando questionado sobre o suplemento, o atendente logo disse: “É o que foi proibido, o americano. Esse nós temos.”

Em Santa Maria, não foi diferente. Na André Suplementos, inicialmente, o vendedor informou que o suplemento seria adquirido apenas por encomenda prévia, mas, no fim da conversa, prometeu o produto para o mesmo dia. O menor valor praticado pela loja foi R$ 190. “Você perde gordura geral com ele”, explicou a pessoa, do outro lado da linha. O acesso também foi livre na Feira dos Importados. Na Elite Corp, o menor preço: R$ 160, em dinheiro. Ontem, a reportagem entrou novamente em contato com os estabelecimentos. A Hyperform não deu esclarecimentos sobre o fato, a André Suplementos negou vender o produto, enquanto a Sansão e a Elite Corp confirmaram a comercialização do OxyElite Pro.

Há um ano, a empresária Renata Nogueira de Lima, 29, toma as cápsulas e diz ter emagrecido 14kg nesse período. Desde então, ela afirma comprar apenas pela internet, por saber da proibição em solo nacional. “Eu comecei uma dieta e, paralelamente, tomei os comprimidos. Não senti nenhum efeito colateral, mas sim um ânimo que não tinha para malhar. A vontade de comer doce também reduziu”, relatou. Embora Renata tenha alcançado o objetivo, continua consumindo o OxyElite. Segundo ela, o produto aumenta a disposição no dia a dia. “Como acordo cedo, ele me deixa bastante alerta. Então, para mim, é muito bom. Trouxe até de Miami, quando fui. Conheço outras pessoas que tomam e não tiveram qualquer problema”, afirmou.

Alerta

Apesar de Renata atribuir ao OxyElite Pro a redução das medidas, a Anvisa alerta que os produtos fabricados com ingredientes que contêm DMAA não passaram por avaliações de segurança, portanto são arriscados para o consumo humano. A fisiologista do exercício e professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) Keila Fontana vai além: “Os efeitos colaterais podem ser diversos, principalmente porque muitas pessoas misturam o suplemento com outras substâncias para potencializar o efeito. Nesses casos, o perigo é ainda maior”, explicou. Segundo ela, produtos como esse, com características de asteroides e anabólicos, sobrecarregam o organismo. “O fígado é um dos mais comprometidos, pois ele metaboliza tudo. O rim também, porque filtra tudo e tem de eliminar. Então, eles duplicam, triplicam a atividade deles. Pode ser muito bom a priori, mas, a médio e a longo prazo, os efeitos podem ser devastadores”, arrematou.

Na maioria dos pontos comerciais procurados pelo Correio, embora a venda do OxyElite não ocorressse, havia a indicação de produtos similares, com promessa de serem queimadores de gordura, emagrecedores e termogênicos, como é o caso do Oxylin Pro, do Oxyhers e do Lipo Cut X. Procurada, a Anvisa informou que a comercialização desses produtos “está totalmente irregular”. O especialista em Vigilância Sanitária da Gerência Geral de Alimentos da entidade, Gustavo Tayar, esclareceu a afirmação. “Eles podem não ser necessariamente irregulares, mas as alegações e promessas trazidas, são. Além disso, se há informações no rótulo, por exemplo, sobre propriedades ou indicações terapêuticas, aí está caracterizada uma infração sanitária”, pontuou. Nesses casos, os produtos não podem ser usados sem acompanhamento médico (Leia o que diz a lei).

Tradução

Alimentos termogênicos são conhecidos por serem capazes de aumentar o gasto energético, ou seja, queimarem mais calorias enquanto digeridos. Aceleram o metabolismo, a queima de gordura e aumentam a temperatura corporal.

Depoimento

“Fiquei eufórica”

“Eu tinha marcada uma prova de resistência para um concurso. Tentei emagrecer e não consegui. Foi então que procurei uma clínica e a especialista me passou o OxyElite. Era para eu tomar uma vez ao dia. Pedi a um amigo para comprar o suplemento e ele conseguiu facilmente em Sobradinho. Tomei por dois dias e fiquei mais disposta. Fui para a academia correndo, fiz mais de 10 minutos de esteira, coisa que não conseguia antes. Inclusive, voltei para casa correndo. Não fiquei cansada em momento algum. Pelo contrário, fiquei eufórica. Por curiosidade, busquei informações sobre as substâncias contidas no produto. Eu tenho conhecimento nessa área, por isso, pesquiso sempre. Verificando os compostos, percebi que as ligações das moléculas eram parecidas com as da cocaína. Além disso, descobri que o produto estava proibido. Na hora, fiquei com medo. Pensei que poderia ser barrada no meu concurso por causa do antidoping, então parei de tomar na hora. Como o produto causa dependência, senti na pele a falta de toda aquela disposição. Fiquei revoltada, mas o pior foi me sentir enganada.”

Servidora pública de 25 anos, que preferiu não se identificar

Livre na internet

O Correio buscou o OxyElite na internet e verificou que o produto é vendido, inclusive, pelas redes sociais. Foi por meio dessas fontes que o policial civil Francisco das Chagas Oliveira, 42 anos, descobriu os efeitos prometidos pelo suplemento. Ele tentou comprar on-line, mas só conseguiu depois que um colega trouxe dos Estados Unidos. “Chegou para mim há uns cinco meses. Tomei por 45 dias, mas parei por não conseguir encontrá-lo com facilidade aqui”, contou. “Não senti nenhum efeito colateral. O que ele fez foi me ajudar a reduzir medidas”, completou. Para Oliveira, os problemas na ingestão do suplemento podem estar relacionados à mistura com outros produtos. Ele também acredita que faltem estudos específicos dos laboratórios sobre os efeitos da suplementação.

O que diz a lei

No capítulo 5 da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa nº 18, de 27 de abril de 2010, fica estabelecido:

Artigo 26 — Na rotulagem dos produtos comercializados, em conjunto com o artigo 15, devem constar:

I — A designação de cada produto, conforme as classificações individuais previstas no artigo 4º, de acordo com os produtos que os compõem.

II — A lista de ingredientes de cada produto.

III — O número de registro de cada produto.

IV — O prazo de validade correspondente ao do produto com menor prazo.

V — A informação nutricional de cada produto.

Artigo 27 — Nos rótulos dos produtos não podem constar:

I — Imagens e ou expressões que induzam o consumidor a engano quanto a propriedades e ou efeitos que não possuam ou não possam ser demonstrados referentes a perda de peso, ganho ou definição de massa muscular e similares.

II — Imagens e ou expressões que façam referências a hormônios e outras substâncias farmacológicas e ou do metabolismo.

III — As expressões “anabolizantes”, “hipertrofia muscular”, “massa muscular”, “queima de gorduras”, “fat burners”, “aumento da capacidade sexual”, “anticatabólico”, “anabólico”, equivalentes ou similares.