O Estado de São Paulo, n.46238, 22/05/2020. Metrópole, p.A12

 

Novo teste avalia 16 vezes mais amostras

Fabiana Cambricoli

22/05/2020

 

 

Técnica desenvolvida pelo Einstein analisa 1.536 materiais por ciclo, ante 96 na tecnologia padrão; hospital não descarta parceria com o SUS

O Hospital Albert Einstein desenvolveu uma técnica para o diagnóstico de coronavírus capaz de analisar até 16 vezes mais amostras por vez em comparação com o mais utilizado hoje, o RT-PCR. Segundo a instituição, é o primeiro exame de covid-19 a ser patenteado no mundo que utiliza tecnologia de sequenciamento genético de nova geração, com base na leitura de pequenos fragmentos de DNA para identificar doenças ou mutações genéticas.

Assim como o exame de biologia molecular RT-PCR, o novo teste do Einstein também busca o material genético do vírus nas amostras coletadas e também é indicado para pacientes na fase aguda da doença. A diferença é que, por meio de técnicas de sequenciamento e da utilização de uma ferramenta de inteligência artificial, o processo de análise do material é automatizado, tornando possível o processamento de 1.536 amostras por ciclo, número 16 vezes maior do que as 96 processadas por vez pela técnica padrão de RT-PCR.

Com a mesma indicação e o mesmo nível de precisão do exame de biologia molecular, seria uma opção para ampliar a testagem no País. “Em um único processamento, conseguimos analisar 1.536 amostras. Se fôssemos fazer esse mesmo número de análises por meio do RTPCR, precisaríamos de um parque de equipamentos muito maior”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein. O único tipo indicado até agora como possibilidade para testagem em massa era o sorológico, que detecta os anticorpos produzidos pelo paciente a partir do contato com o vírus e não o material genético do invasor. Por causa disso, os testes de sorologia só costumam ser indicados pelo menos 10 dias após o início da manifestação da infecção, o que impede seu uso para fins de detecção rápida, isolamento do paciente e monitoramento de contatos. Ele também tem alto índice de resultados falso-negativo.

Segundo Mayana Zatz, diretora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e professora da Universidade de São Paulo (USP), a tecnologia de sequenciamento genético de nova geração já é usada em outras situações para análise de RNA e sua grande vantagem é que, quando associada a alguns equipamentos, aumenta de maneira significativa o volume de amostras processadas. “Se esse novo teste puder aumentar a capacidade diagnóstica a um custo menor, será extremamente importante para termos uma opção a mais de exame para os pacientes no início da infecção, quando ainda é possível isolar a pessoa e impedir que ela transmita o vírus para mais gente”, diz.

João Renato Rebello Pinho, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Einstein, diz que a expertise do laboratório da unidade em realizar testes genéticos facilitou o desenvolvimento da técnica. “A gente já tinha estrutura muito grande nesse campo, mas voltada principalmente para testes relacionados a câncer e doenças genéticas. Com a pandemia, caiu a procura por esse tipo de exame e aproveitamos a estrutura para desenvolver a técnica para diagnóstico de doenças virais.”

Parceria. O teste deve chegar ao mercado com preço menor do que o RT-PCR, que custa R$ 250. A técnica estará disponível para pacientes do hospital em três semanas. O Einstein diz que não descarta a realização de parcerias com o SUS para ofertar o exame em laboratórios da rede pública.

O processo de coleta é o mesmo do RT-PCR – coleta de secreção e saliva por meio de uma haste flexível – e o resultado sai em até 72 horas.

Escala

“Sabemos que uma das principais dificuldades é ganhar escala na testagem, ter resultados rápidos diante do aumento de demanda.”

João Renato RebelloPinho

COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE TÉCNICAS ESPECIAIS DO EINSTEIN

OS VÁRIOS TIPOS

• As diferenças

Há diferentes tipos de testes para detectar a covid-19. O teste pelo método RT-PCR permite saber se o paciente está infectado no momento em que o exame é realizado. O material é coletado da garganta e do nariz com uma haste flexível. Esse teste é recomendado para quem tem sintomas e pode detectar a presença do vírus do terceiro ao sétimo dia do início dos sintomas, preferencialmente. Já o teste pelo método de sorologia (IgM/IgG) é realizado por meio de amostra de sangue simples e verifica a resposta imunológica do corpo ao vírus. É recomendado que seja realizado pelo menos 10 dias após o início dos sintomas.

• Onde fazer

Nas farmácias, é possível fazer um teste rápido, que verifica a presença de anticorpos e fica pronto em menos de 20 minutos. Esses testes devem ser aplicados em pessoas com sintomas há pelo menos dez dias e têm sensibilidade reduzida em relação aos demais. Laboratórios também oferecem testagem, até mesmo com coleta em casa.

• Preços

Os valores variam de R$ 200 a R$ 470, dependendo do tipo de teste e da forma de coleta.

• Indicações

A recomendação é que pessoas que apresentem sintomas sejam testadas, assim como aquelas que tiveram contato com infectados. De modo geral, os assintomáticos não têm recomendação para fazer o teste. Além disso, é recomendada a indicação médica para a realização do teste, assim como a interpretação dos resultados por um profissional.