Correio braziliense, n. 20864 , 07/07/2020. Negócios, p.9

 

Patrimônio da União em apuros

Rosana Hessel

07/07/2020

 

 

Imagine um governo que há anos registra prejuízo nas contas, pendurado em empréstimos que não consegue pagar. E esse buraco fiscal cresce em ritmo acelerado, mesmo em um ano em que a dívida pública bruta cai pela primeira vez desde 2013. É o que mostra o balanço da União de 2019, conforme dados do Tesouro Nacional divulgados ontem. O relatório contábil do órgão escancara a gravidade das contas públicas antes mesmo da chegada da covid-19 ao país, que vem exigindo aumento substancial dos gastos públicos e vai piorar ainda mais o quadro fiscal neste ano.

Em 2019, o patrimônio líquido (PL) da União ficou negativo em R$ 2,982 trilhões, no ano passado, o pior resultado da história, segundo o Tesouro. Esse dado ruim ocorre antes mesmo da chegada da covid-19 ao país e representa um crescimento de 23,4% em relação ao saldo negativo de 2018, de R$ 2,416 trilhões. Entre 2018 e 2017, o patrimônio negativo havia registrado queda de 0,4%. Em dólares convertidos pelo câmbio de 3 de julho, o valor do PL negativo de 2019 soma US$ 559 bilhões, praticamente equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bélgica de 2018, de US$ 555 bilhões.

Conforme dados do Tesouro no relatório, o passivo da União, que trata do conjunto de obrigações, como empréstimos, financiamentos e provisões a pagar, registrou aumento de 11,6% entre 2018 e 2019, para R$ 8,579 trilhões, dado maior do que o PIB brasileiro registado no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de R$ 7,2 trilhões. Já os ativos, que é a soma do que o país possui em caixa e em créditos, investimentos, e ativos imobilizados cresceu apenas 6,2% no mesmo período, somando R$ 5,597 trilhões.

Aumento de gastos

A piora no passivo, segundo a nota do Tesouro, foi resultado do “aperfeiçoamento contábil” ocorrido em 2019, “que provocou um salto das provisões para perdas judiciais e administrativas de R$ 169,9 bilhões em 2018 para R$ 681,2 bilhões no ano passado”. Outro dado destacado pelo órgão que ajudou no crescimento do passivo foi “o crescimento de R$ 589,4 bilhões em provisões de longo prazo relativas ao sistema de proteção social dos militares”.

Resta saber como é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai conseguir controlar o forte aumento de gastos da União para evitar um descontrole das contas públicas ao longo dos próximos anos.